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Ophir Loyola realiza primeiro transplante de medula óssea pelo SUS na Região Norte

O Hospital Ophir Loyola (HOL) realizou este mês, o primeiro Transplante de Medula Óssea pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Norte do Brasil. A atleta Sandra Faustino, de 52 anos, foi submetida ao procedimento, no qual a medula do próprio paciente é utilizada no tratamento. A infusão das células coletadas previamente foi bem sucedida, após dez dias de observação ocorreu a “pega da medula”. Nesta segunda-feira, 24, ocorreu a constatação que a medula óssea está funcionando e o transplante obteve êxito. A transplantada deve receber alta ainda nesta semana, segundo o responsável técnico pelo procedimento, o oncohematologista Thiago Xavier Carneiro.

Cerca de 90% da demanda oncohematológica do Pará é assistida pelo HOL. Avaliado em cerca de R$ 200 mil, na rede privada, o autotransplante de medula óssea é ofertado gratuitamente aos usuários do SUS no hospital paraense. O procedimento, realizado com cooperação técnica da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), ampliou as modalidades de transplantes no Estado por intermédio da Central Estadual de Transplante (CET), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

“Um sonho tornou-se realidade”. Foi desse modo que o responsável técnico pelo serviço definiu o transplante de medula óssea realizado na capital paraense. O procedimento exitoso durou cerca de uma hora, de acordo com a equipe médica que, além de Xavier, é composta pelos oncohematologistas Luciana Leão e João Saraiva, e pela enfermeira especialista em oncologia e hematologia, Rosana Moreira.

O que é a medula – O tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, a medula óssea é responsável pela produção das células-tronco hematopoiéticas, que geram elementos do sangue. O transplante autólogo busca substituir o tecido doente por meio de células sadias transplantadas do próprio paciente. O material é coletado e armazenado para ser devolvido após o usuário ser submetido a altas doses de quimioterapia que erradique células doentes.

“A medula óssea fica dentro dos ossos, sendo responsável pela produção do sangue, fundamental para o funcionamento do nosso corpo. No transplante realizado aqui no HOL, a medula do paciente é coletada, congelada e armazenada. Posterior ao tratamento, o paciente recebe novamente o material, contribuindo para a recuperação acelerada. O transplante é complexo e exige que as equipes funcionem de maneira conjunta”, ressaltou Xavier.

Para a realização do procedimento, faz-se uma avaliação completa. Diversos exames são solicitados para determinar a aptidão. Verifica-se o funcionamento dos órgãos e se o paciente apresenta alguma doença infecciosa ativa, por exemplo.

“Durante o transplante é necessário um cuidado intensivo, pois há risco de infecção. Então, as equipes de oncohematologia e de transplante de medula óssea acompanham atenciosamente o paciente, que passa por exames periódicos a fim de verificar a resposta ao tratamento”, explicou o médico.

O transplante possui três fases e dura cerca de um mês. Na primeira, também conhecida como mobilização, o paciente recebe medicamentos para estimular a migração das células progenitoras hematopoiéticas, encontradas na medula, para o sangue periférico, isso facilita a coleta. Posteriormente, é realizada a aférese, na qual essas células são separadas por centrifugação em um equipamento automatizado antes de serem congeladas. E, na última etapa, o material é infundido em um procedimento similar à transfusão de sangue.

Ophir Loyola recebeu este ano autorização para realizar o procedimento

Em maio deste ano, o Hospital Ophir Loyola recebeu credenciamento do Ministério da Saúde para a retirada e transplante de células-tronco hematopoiéticas. De imediato, as equipes médicas e assistenciais iniciaram a busca ativa por pacientes aptos ao TMO. A auxiliar administrativa e atleta Sandra Faustino foi selecionada para passar pelo procedimento inaugural. Internada no dia 22 de junho, menos de um mês após a acreditação, a belenense passou pela aférese.

“A aférese é a coleta de um produto do sangue total. Por meio do processamento em uma máquina estéril, coletamos o componente desejado, seja plasma, plaquetas ou, como neste caso, células progenitoras”, afirmou Evelyn Ferreira, gerente da coleta de doadores do Hemopa.

A coleta das células progenitoras de Sandra ocorreu no último dia 5 de julho e durou cerca de 4 horas. O material foi devidamente acomodado em uma maleta e levado ao hemocentro, onde foi processado, congelado e aguardou até ser infundido na paciente, no último dia 14.

A diretora-geral do HOL, Ivete Vaz, celebrou o feito da instituição que, além do TMO, realiza transplantes de rins e córneas. “A conquista não é somente do HOL, mas de todos que apoiaram a causa e, principalmente, da população paraense e nortista, que agora conta com mais esse serviço de excelência oferecido gratuitamente aos usuários do SUS. Celebremos a vida nova da paciente e de tantos outros que serão assistidos pelo serviço”, afirmou a gestora.

O TMO chega ao Ophir Loyola em meio à diversas reestruturações físicas e logísticas que visam oferecer maior comodidade e conforto aos usuários. De acordo com a diretora-geral, as mudanças são fundamentais para a melhoria efetiva dos serviços.

“É importante acompanharmos os avanços técnico-científicos da medicina. A saúde pública do Pará comemora o sucesso desta modalidade terapêutica tão relevante para aqueles com doenças hematológicas complexas. O transplante de medula óssea, assim como os demais serviços implementados e aperfeiçoados no âmbito do SUS, garantem uma assistência digna. Parabéns a todos os que lutaram para que o TMO se tornasse realidade no HOL”, ressaltou Ivete Vaz.

Perfil
Dos 52 anos de Sandra, mais de três décadas foram dedicadas ao ciclismo. E foi durante o treinamento para mais uma competição da modalidade que a atleta sentiu dores nas costas. A priori, pensou que pudesse ser a posição na bicicleta ou resultado do esforço físico, mas ao procurar um ortopedista e passar por alguns exames, foi encaminhada a um hematologista, que a diagnosticou com mieloma múltiplo, um tipo de câncer originário na medula óssea.

“Eu estava no auge do meu preparo para mais um campeonato de ciclismo, quando comecei a sentir desconfortos. Pensei que era luxação, comecei a fazer alongamentos e tomei relaxante muscular, mas as dores não passavam. Deixei de praticar musculação e ciclismo para investigar. Quando fui ao médico, ele pediu exames e passou fisioterapia. O quadro piorou, fiz novos exames e fui encaminhada para o hematologista. O diagnóstico foi angustiante, cheguei a perder 10 kg”, recordou a paciente Sandra Cristina.

No mieloma, as células cancerígenas enfraquecem os ossos, o sistema imunológico, os rins, além de acarretar outros problemas. Mas para Sandra, o medo de falar sobre a doença supera as dores ocasionadas pelo câncer. “Apesar de ter recebido prêmios e de estar na mídia pela prática do esporte, sempre fui uma pessoa muito reservada. Quando descobri o câncer, foi um baque. Demorei a contar para a minha família e, até hoje, muitos amigos não sabem. Eu evito falar sobre a doença e alguns não entendem o porquê de eu ter me afastado de tudo”, afirmou.

Esperança de cura – Em março de 2022, Sandra iniciou o tratamento no HOL, onde deu início à quimioterapia e ao acompanhamento necessário para o enfrentamento à doença. E em junho deste ano, ela foi surpreendida com uma notícia enviada pela filha, Syldth Faustino, de 29 anos, que mora no sul do Brasil.

“A minha filha mora em Santa Catarina e viveu essa angústia comigo. Quando um colega dela comentou sobre uma reportagem que falava que o Ophir faria transplante de medula óssea, ela fez uma foto e me enviou na mesma hora. Entrei em contato com o hospital e me disseram que realmente iriam oferecer o serviço. Fiquei muito feliz porque, assim como eu, muitas pessoas receberão tratamento em nosso Estado”, relembrou.

Além de consultas regulares, os profissionais envolvidos no TMO realizam uma série de checagens. “Após consulta com o oncohematologista, os dados do paciente são inseridos em uma plataforma, na qual verificamos exames, consultamos o histórico e convocamos para avaliação presencial com equipe multiprofissional. Avaliamos o estado geral e o nível de adesão, uma vez que o paciente precisa seguir os cuidados orientados no pré, no intra e no pós transplante”, explicou a coordenadora de enfermagem do TMO do HOL, Rosana Moreira.

Após análises de perfis, a atleta foi convocada e internada na instituição, onde deu início ao preparo para o TMO autólogo, também conhecido como autotransplante. “Observamos a aptidão física, psicológica e se há possibilidade de adesão ao tratamento. Os resultados dos exames e o entendimento de Sandra sobre todo o processo do transplante contribuíram para que ela fosse a primeira”, afirmou Rosana.

Pacientes com leucemias, linfomas, síndromes mielodisplásicas, mieloma múltiplo e tumores sólidos são elegíveis para o procedimento que, a depender do caso, pode representar a cura. O bom condicionamento do corpo é importante para o concebimento da medula saudável.

“É importante enfatizar que, para um transplante como esse ser realizado é necessário um trabalho em conjunto, tanto a equipe de saúde quanto o hospital precisam estar habilitados a fazer esse procedimento, e é a Central Estadual de Transplantes da Sespa que monitora e coordena todos os transplantes, seguindo a normatização brasileira”, finaliza Ierecê Miranda, coordenadora da CET.

*Com informações de Agência Pará