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Os melhores de 2021 – se é que teve algum

Sempre que o ano chega ao fim eu gosto de passar a limpo os últimos dias, conferir o que me agradou nos 12 meses anteriores e elencar a minha lista pessoal de “melhores”. Desta vez a tarefa não foi fácil, e por um motivo simples: apesar da chegada das vacinas, tivemos mais um ano marcado pela pandemia que, tal qual a visita chata que chega pro natal e emenda até o dia de reis, já devia ter ido embora há muito tempo.

Nossa vida seguiu regida pelas demandas da sobrevivência num cenário global que não é mais “novo”, mas ainda não conseguimos aceitar como “normal”. Nesse sentido, 2021 pareceu mais como um “2020 2.0 turbo flex” do que com algo novo – teve melhorias, claro, mas no geral apresenta o mesmo chassi de Marea do modelo anterior, e isso nos faz querer passar o treco adiante o mais rápido possível.

Talvez por isso mesmo esse exercício de memória seja importante. Relembrar é tipo fazer uma faxina mental, que ajuda o meu cérebro a entender quais memórias deve guardar enquanto o resto vai pra lata do lixo do esquecimento. Se a cabeça da gente funcionasse como aquele filme Divertidamente, os meus bonequinhos cerebrais certamente estariam de vassoura, balde e rodo na mão.

Então, sem mais demora, segue a minha lista de preferidos em cinco categorias que considero importantes, mas com um aviso: pode ter spoilers a seguir. Vamos lá:

1) FILME: “Homem-Aranha: Sem Volta pra casa” (Marvel Studios)

Vou abrindo a lista logo com uma escolha meio óbvia, mas qualquer filme que me fez botar duas máscaras e encarar um espaço fechado com outras 50 pessoas ao lado durante a pandemia merece essa menção. “Sem volta pra casa” é uma ideia manjada, explorada muitas vezes nas hqs e animações, mas que ainda cativa a gente por colocar diversos atores numa convenção de homens aranhas de carne e osso. É um filme que seria inexequível poucos anos atrás, mas cuja espera permitiu que a gente visse Peter Parkers com diferentes graus de maturidade, representando na telona os fãs antigos e novos do cabeça de teia.

Além da aventura que se espera de todo filme de super-herói, “Sem volta pra casa” É, essencialmente, um filme sobre segundas chances: primeiro do Andrew Garfield, que fez os piores filmes e neste rouba a cena, e também do trio de aranhas que, após uma terapia em grupo, conseguem triunfar sobre os fantasmas das suas falhas do passado. Espero que este filme sirva de reflexão pra todo mundo que votou errado nas eleições de 2018 e, agora em 2022, terá uma chance de se redimir e fazer a coisa certa tal qual os protagonistas deste filme. Nunca é tarde pra acertar.

2) GAME: Considerando o quanto eu gosto de videogame esta seria, pra mim, a categoria mais importante – mas infelizmente não tenho um indicado sequer. O motivo é que graças ao Paulo Guedes o dólar disparou, e os preços dos lançamentos foram pra estratosfera. Com os jogos batendo a casa dos 300, até 400 reais, deixei os lançamentos de lado neste ano para poder pagar as contas de luz e supermercado. Pra não deixar o hobby de lado, me restou revisitar os clássicos dos 16 bits ou, quando muito, pegar uma promoção no catálogo Steam. Se por um milagre o câmbio melhorar ano que vem, eu volto a jogar os games no ano em que forem lançados, e talvez até fale deles por aqui.

3) LIVRO: “O céu da meia-noite” (Lily Brooks-Dalton)

Esse livro foi lançado no Brasil em 2021 e chegou na minha mão através da TAG livros, um projeto de curadoria em que você faz uma assinatura e recebe mensalmente as obras na sua casa, para depois debater a trama com outros leitores num clube do livro que, por conta da pandemia, ocorre de forma virtual. Foi livro muito importante pra mim porque encerrou uma longa ressaca literária: desde 2020 as minhas leituras eram excessivamente técnicas, voltadas pro trabalho, e é sempre bom a gente abrir espaço na nossa vida para a ficção, ainda mais quando feita com esta qualidade.

Esqueçam a adaptação cinematográfica e fiquem com o livro, que mostra a decisão de um homem (de caráter questionável, conforme descobrimos graças aos flashbacks) em se exilar diante da perspectiva do fim do mundo, contemplando as estrelas sozinho até que um encontro inesperado faz reacender nele a necessidade de interação humana – ou seja, é tipo a gente durante os períodos de isolamento social impostos pela pandemia. O protagonista passa por períodos de contemplação, surto, solidão, tristeza e paz que fazem a gente pensar sobre a diferença entre as distâncias do corpo e do coração.

4) QUADRINHOS: “Confinada” (Leandro Assis e Triscila Amaral)

Desenhada pelo quadrinhista Leandro Assis com roteiro de Triscila Amaral, “Confinada” é um webcomix lançado no instagram que mostra a rotina da Influencer Fran e de sua empregada doméstica Ju durante a pandemia de covid. Com grande habilidade, a dupla mostra os contrastes entre as protagonistas para escancarar privilégios de classe e cor que estão entranhados no país. Considero “Confinada” uma obra importantíssima, comparável ao filme “Que horas ela volta?” de Anna Muylaret em sua beleza e complexidade… mas aquele leitor de HQ que até hoje não entendeu as histórias dos X-men vai dizer que a tirinha é só lacração.

5) SÉRIE: “A Roda do Tempo” (Amazon Prime)

Fantasia é meu gênero favorito, mas desde a sofrível última temporada de Game of Thrones eu estava muito receoso de ver uma série baseada neste tipo de literatura. Quando a adaptação da obra do Robert Jordan chegou sem alarde nos streamings, resolvi dar uma chance por não ter tanta familiaridade com o material original, o que poderia me render mais surpresas e menor rejeição. E, cara, que viagem! O mundo de “Roda do Tempo” é muito bem tecido, coerente e coeso em sua proposta, mas a trama não se incomoda em enfiar toda a geografia do lugar de forma professoral – quem carrega a trama são os personagens, não os lugares, e todos tem jornadas e dilemas próprios que nos fazem torcer e sofrer na medida certa.

A trama, para quem não conhece, gira em torno da profecia do renascimento do dragão – um terrível tirano que deixou o mundo dividido 3 mil anos atrás e cuja aguardada reencarnação poderá unir os povos ou destruir o mundo de vez, dependendo das alianças que ele fizer em sua segunda passagem – ou seja, é quase uma série sobre uma possível chapa Lula e Alckmin, mas com espada e magia em um universo fantástico. Mal posso esperar pra ver o que vai acontecer nessa segunda temporada… e da série, também. 

E você, leitor, quais foram seus favoritos de 2021?