Esta semana o BT recebeu uma denúncia de pais de alunos do Colégio Madre Celeste, que fica localizado no bairro da Marambaia, em Belém. De acordo com denunciantes, a direção da escola decidiu implementar o ensino militar sem conversar previamente com pais e responsáveis dos alunos.
Segundo a denúncia, na semana passada uma reunião foi realizada na instituição para comunicar os pais de que a decisão já estava tomada e para explicar os motivos e como funcionará a implementação do ensino militar na escola.
Esta semana, outra reunião foi realizada, na terça-feira, 31, e ainda de acordo com denunciantes o encontro foi marcado por uma “discussão acalorada entre pais e mestres e os representantes da segurança pública que trouxeram o projeto que irá ser imposto na escola”.
Em um áudio enviado ao BT, uma mulher que se identifica como Josinéia, e que se apresenta como pedagoga e militar, fala sobre os motivos para a implementação do ensino militar na escola. “Muitos pais perguntam quando vai ter [o ensino militar]. E aí, a professora Nilse aceitou esse desafio e trouxe para o Madre Celeste essa nova roupagem educacional, onde aliamos a pedagogia escolar e o melhor que podemos extrair do militarismo”, conta.
O áudio segue e a mulher afirma que os estereótipos impostos ao militarismo não devem ser uma preocupação para os pais e responsáveis. “‘Nossa, meu filho (a) vai virar militar? Vai ficar no sol? Vai ficar marchando?’. Eu sei que surgem muitos questionamentos, mas eu quero deixar bem claro que aquela situação que existe lá no Tropa de Elite, nos cursos de formações, aquilo que a gente vê em filme, esqueçam e descontruam isso”, disse a pedagoga.
Logo depois, a mulher se apresenta novamente e afirma ser ‘profissional de segurança pública’, mas não explica em qual cargo. “Estou a disposição, sou Josinéia, e além de formação pedagógica sou profissional da segurança pública e estou aqui para somar junto com o Madre Celeste”, afirma.
O áudio segue, com a pedagoga colocando a segurança dos alunos como principal motivo para a implementação do militarismo na escola. “Onde é que o militarismo vai entrar nessa situação escolar? Segurança, proteção, manutenção e inserção de valores. Um pai, muito sabiamente, falou assim: ‘mas o Madre Celeste já trabalha valores muito bem, não temos grandes problemas de indisciplina’. Que bom, né? Então porque não somar?”, questionou aos pais e responsáveis presentes na reunião.
ESCUTE O ÁUDIO:
RECLAMAÇÕES
A reclamação de pais e responsáveis vai muito além da imposição do militarismo. De acordo com denunciantes, nada foi informado no momento de rematrícula dos alunos na escola e, segundo a denúncia, a direção já sabia sobre a implementação. “Foi pura imposição. Mesmo com protestos da metade dos pais presentes, que se sentiram agredidos e lesados, o projeto de disciplina militar vai avançar”, lamentou um dos denunciantes.
Um vídeo, gravado na reunião que foi realizada na última terça-feira, mostra uma mulher afirmando que a filha teve crises de ansiedade desde que foi informado sobre o plano da escola. “Queria que nos informassem, pra gente passar para os nossos filhos, pra eles se controlarem. A minha filha teve crise de ansiedade, não quis comer. Eu tenho laudos médicos que comprovam que ela faz acompanhamento psicológico. É uma educação boa? Sim, ninguém tá desmerecendo. A situação é como foi imposto sem nos informar”, criticou a mãe de uma aluna.
A mulher seguiu, reiterando que no ato da matrícula ninguém foi informado da mudança. “Se dinheiro tá fácil pra alguns, pra mim não tá. Eu tiro leite de pedra pra pagar livro de quase dois mil reais. Então, se é pra mostrar respeito, tinha que demonstrar o respeito com os pais ano passado. Isso não chegou dia 1º de janeiro aqui pra vocês, eu tenho certeza. Nós fizemos matrícula em novembro, em janeiro eu estava tendo contato com todo mundo aqui na escola”, relatou a mãe.
Uma outra mulher aparece no vídeo também questionando a postura da direção da escola. “No ato da matrícula nós já deveríamos tomar ciência”, diz. Do palco, uma mulher responde que o projeto será implementado. “Pra nós, isso se apresentou como uma oportunidade que não podíamos deixar passar. Concordo com a senhora que, no mundo ideal, a gente devia ter falado com vocês antes, só que a gente não tinha essa situação, a oportunidade se consolidou já em um tempo mais avançado. E se alguém aqui tiver algum problema que seria evitável por uma situação de segurança?”, questionou a funcionária do colégio.
VEJA A RECLAMAÇÃO DE ALGUNS RESPONSÁVEIS:
O BT entrou em contato com a escola Madre Celeste para questionar sobre o caso. Em nota, a diretoria do grupo de ensino afirmou que “pais e responsáveis de alunos foram convidados para esclarecimentos sobre o Programa de Introdução ao conceito educacional cívico -militar, proposta essa que engrandece famílias, alunos e a comunidade ao entorno. As reuniões foram positivas, com manifestações de adesão ao projeto”.
A direção da escola afirmou ainda que o Madre Celeste será pioneiro na implementação da proposta do ensino cívico-militar. “Todo o nosso corpo técnico, diretivo e de gestão está envolvido no movimento gradativo de melhoria do processo didático-pedagógico para a unidade Madre Celeste Marambaia, sempre dialogando e construindo juntos, abrindo as portas da escola para a comunidade, na oferta de oportunidades nessa nova experiência, que tem significativa demanda junto ao segmento privado de ensino”, diz a nota.
Por fim, a direção afirma que o principal objetivo da implementação é “atuar preventivamente na identificação de problemas, que possam influenciar no aprendizado e convivência social do cidadão em desenvolvimento, promovendo condições que permitam um ambiente adequado, facilitador para aquisição de conhecimentos”.
CONFIRA A NOTA NA ÍNTEGRA:
Entretanto, o BT reforça que, dentre as perguntas feitas à instituição, três não foram respondidas na nota:
- Os pais foram informados previamente?
- Caso queiram retirar os filhos da escola, os responsáveis receberão o valor integral de volta?
- Quem serão os responsáveis pela implementação do militarismo na escola?
O espaço segue aberto para que a diretoria do grupo de ensino se manifeste.