Um pastor evangélico, identificado como Ronaldo da Silva Oliveira, foi preso pela Polícia Cívil do Pará na segunda-feira, 28, sob suspeita de estupro de vulnerável contra três adolescentes. Ele era líder religioso da Igreja Evangélica Luz de Deus, localizada no bairro de São Brás, em Belém, que fechou as portas após as denúncias virem à tona no mês passado. As vítimas eram frequentadoras do templo.
O mandado de prisão preventiva foi cumprido no município de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, por agentes da Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca/Santa Casa). A determinação foi expedida pela 1ª Vara de Inquéritos Policiais de Belém. De acordo com a Polícia Civil, as investigações apontam que o suspeito utilizava sua posição como líder religioso para praticar os crimes.
A mãe de uma das vítimas, uma adolescente de 12 anos de idade, que frequentava a igreja há dois anos, registrou um Boletim de Ocorrência sobre o caso em julho. Em entrevista à Alma Preta, ela contou que soube dos abusos no dia do registro do B.O, depois que a mãe de uma das outras vítimas revelou os crimes. Ao questionar a filha, a adolescente revelou que os abusos começaram durante reuniões privadas solicitadas pelo pastor para saber de “questões espirituais” da jovem.
“Tudo começou por volta de novembro do ano passado. Ele [Ronaldo] dizia que, como pastor, deveria se preocupar com suas ovelhas, e mantinha reuniões particulares com as meninas. A minha filha relatou que, em um desses encontros dentro da igreja, ele alegou que iria ensiná-la como se defender de possíveis abusadores, e se aproveitou para abraçar e passar a mão nas partes íntimas dela”, começa.
“Como a minha filha não tinha celular, ele nos mandava mensagem para saber como ela estava. Quando o celular já estava nas mãos dela, ele utilizava códigos para saber se havia algum responsável por perto, como ‘tem polícia aí?’, se referindo aos adultos”, completa a mãe.
Ainda de acordo com os relatos da jovem à mãe, o estupro ocorreu em junho deste ano, no carro do pastor, após um culto de jovens realizado na igreja. “Eu não pude ir e ele disse que deixaria ela aqui em casa de carro”, conta a mãe de uma das vítimas.
Segundo a mãe de uma das meninas, a família chegou a desconfiar da proximidade entre o pastor e a adolescente, mas ele se utilizava da confiança dos fiéis para fazer as vítimas. “Ele dizia a mim: ‘irmã, você está desconfiando de alguma coisa? Boto a minha mão na bíblia para dizer que não estou fazendo nada de errado. Só estou cuidando das minhas ovelhas’.”, relembra.
Ela diz, ainda, que acreditava que a filha procurava o pastor para pedir orações para unir a família, já que a mãe estava em processo de separação. Durante o período, a jovem começou a desenvolver transtornos nervosos, que o próprio pastor atribuía ao processo de separação. A adolescente também teria sido alvo de agressões: “Ela ficava se mordendo para esconder as marcas que ele deixava no corpo dela”.
Mesmo após a denúncia vir à tona, a mãe revela que o pastor seguiu acompanhando as publicações da adolescente nas redes sociais pelo menos até o último domingo, 27, véspera da prisão. Uma captura de tela enviada à reportagem mostra um perfil sem foto, atribuído a Ronaldo da Silva Oliveira, visualizando as postagens da vítima no Instagram.
Apesar da gravidade do caso, a mãe conta que vítimas e familiares que denunciaram os crimes sofreram retaliações da família do pastor e dos demais fiéis da congregação, que afirmam que as adolescentes mentiram em relação aos abusos e que elas teriam provocado o pastor.
“Não vou dizer que estou feliz com a prisão dele, pois essa situação a gente não deseja a ninguém. Mas queremos defender a inocência das meninas perante as calúnias que elas estão sofrendo de pessoas que colocam ele na posição de vítima”, lamenta a mãe.
A mãe de uma das vítimas diz ainda que a filha passou por perícia sexológica e espera por suporte psicológico do estado para a adolescente. Segundo a polícia, as vítimas passaram por atendimento especializado.
A reportagem procurou a Igreja Evangélica Luz de Deus para saber o posicionamento da instituição religiosa sobre a denúncia. Até a publicação deste texto não houve resposta. Caso a igreja se manifeste, a reportagem será atualizada.
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
O estupro de vulnerável está previsto no artigo 217-A do Código Penal e consiste em “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos”. A pena para o infrator é de reclusão de 8 a 15 anos.
No Pará, crimes praticados contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes podem ser denunciados por meio do Disque Denúncia 181, ou presencialmente, em qualquer unidade policial ou na sede da Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca), anexo ao prédio da Polícia Científica do Pará, situada na Avenida Transmangueirão, no bairro Benguí.
*Feito com informações de Alma Preta.