///

Pedral do Lourenço: Ribeirinhos apontam desastre ambiental com uso de explosivo e amônia que vai matar todo tipo de vida animal  

O que é a obra do Pedral do Lourenço? Trata-se da retirada de uma formação rochosa no Rio Tocantins, que durante a estiagem, afeta a navegação de barcos de grande porte. Previsto para iniciar em março de 2024, o empreendimento vai retirar esse “grande bloco de rocha” ao longo de 35 quilômetros do Rio Tocantins, criando assim uma nova hidrovia. O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte, o Dnit, é responsável pela gestão e execução da obra. No entanto, segundo a comunidade ribeirinha do Pará, pela falta de consulta prévia das comunidades, essa obra será um grande desastre para as pessoas que vivem nessa área da Amazônia e para o meio ambiente

Pedral do Lourenço será destruído. Foto: Reprodução

O BT ouviu Paulo Feitosa, que é Presidente da Associação de Ribeirinhos do Pará. Paulo fez revelações sobre a obra que, para ele, seria um desastre, caso não haja um redimensionamento. “Nós estamos numa luta travada há mais de um ano. Nós fizemos o fórum dos ribeirinhos do Pará, viemos de Marabá, até Barcarena, ouvindo as pessoas, as comunidades, fizemos várias reuniões em cada município, ouvindo pescadores, extrativista, povo que vive da agricultura familiar e de lá a gente travou uma luta junto do Ministério Público Federal”, afirma Paulo. 

Paulo argumenta que o número de famílias atingidas pela obra será muito maior do que o estimado pelo projeto. “Nós entendemos o seguinte, eles lá dizem que vai ser afetado em torno de 5 a 6 mil pessoas, mas temos mais de 120 mil pessoas que vão ser afetadas. Eles fizeram três audiências públicas e não ouviram toda a população tradicional que tem de Barcarena até Marabá. Então, estão passando por cima da OIT 169, e essa é uma falha muito grande dentro do projeto deles. A Convenção Nº 169 da Organização Internacional do Trabalho, a OIT, é um tratado internacional que versa sobre o direito dos povos indígenas e tradicionais, incluindo a sua participação e consulta em decisões que afetem as suas comunidades.  

Outra calamidade que deve acontecer com o obra é o extermínio de várias espécies da fauna aquática, já que o processo de detonação dos “blocos de pedra” envolve explosivos e amoníacos. “A proposta deles lá é que seja feito a base de explosivos, eles vão fazer a perfuração na rocha, e colocar 9 toneladas de explosivos e vão detonar. Isso vai ter 3 explosões por dia, ou seja. Dentro desse explosivo tem amônia, que é um grande veneno pra água, pro peixe, e pras pessoas. E cada detonação dessa, os animais que estiverem dentro da água no raio de um quilômetro no entorno da detonação, vão morrer”, alerta Paulo. A proposta dos ribeirinhos é que seja usado outro método para retirar o pedral. “Estamos propondo que não seja feito o canal a base de explosivo, mas uma máquina escariadora, pra que não aconteça essa matança de peixe no rio Tocantins”, pede.  

Ribeirinhos temem perda de áreas de pesca após obra.

Pontos que Paulo também contesta na obra vão desde a quantidade de “pedrais” que precisam ser retirados ao longo do curso do rio Tocantins, que ele garante não ser somente o Pedral do Lourenço, até a questão da dragagem que precisa ser feita no rio para que a profundidade esteja compatível com a navegação de barcos grandes.  “Fizemos uma sondagem, o ponto mais profundo que ele tem é ali no Município de Baião, que dá 32 metros. Eles precisam de um canal de navegação de 40 metros de profundidade. Portanto, eles vão ter que dragar todo o rio de Barcarena até Tucuruí, e eles estão escondendo isso. Então estamos pedindo que seja feito o redimensionamento, o estudo dessa área”, afirma Paulo.  

Ministério Público – Para o MPF, o derrocamento da Via Navegável do Rio Tocantins afetará diretamente 300 quilômetros do corpo hídrico e toda a biota que dele depende, incluindo áreas de relevante patrimônio ecológico e comunidades ribeirinhas. O MPF realizou hoje (09) audiência pública em Belém para ouvir as comunidades e especialistas sobre o tema. 

Solicitamos um posicionamento do Dnit e aguardamos o retorno.