O transporte público é uma parte essencial para a população, porém, a escolha pelo uso dos coletivos está em baixa, pelo menos é isso que aponta uma pesquisa da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
Segundo o Anuário da NTU, em 2023 foi registrada uma queda de 1,9% no número de passageiros pagantes, em relação a 2022. Ainda segundo a pesquisa, nos últimos 10 anos, a perda desses passageiros aumentou para 44,1%.
O BT conversou com o diretor da NTU, Marcos Bicalho, que apontou alguns dos fatores que colaboram para a baixa demanda de passageiros pelos coletivos. Segundo ele, o estudo revelou que a perda de usuários vem de uma constante, desde a crise econômica de 2015, a opção de viagens particulares por aplicativos.
Bicalho afirmou que a causa da redução na demanda de coletivos se deve ao aumento de “trabalho remoto” e na “individualização nas opções de transporte”. “A pandemia [também] prejudicou muito o setor. Cidades que paralisaram o transporte coletivo”, afirmou.
QUALIDADE DOS SERVIÇOS
A redução do número de passageiros pagantes contribui para que o transporte coletivo urbano não tenha condições de se tornar um serviço de alta qualidade, já que o investimento para a melhoria vem diretamente da demanda de passageiros, ou seja: quanto mais usuários pagam, melhores são as condições para que haja o reinvestimento no sistema, especialmente quando não há subsídios públicos na tarifa, como acontece em Belém e região metropolitana.
Segundo Bicalho, com uma taxa de desemprego elevada, o transporte público sofre tanto pela perda de passageiros quanto pela falta de subsídios para custear a manutenção dos serviços: “A tarifa vai ficando cara para o usuário e pequena para o custo do serviço”, afirmou.
AGRAVAMENTO NO PERÍODO PANDÊMICO E REDUÇÃO DA FROTA
O período da pandemia de Covid-19 também prejudicou as empresas do transporte coletivo, causando Picos negativos na demanda de passageiros. Segundo a pesquisa, é um consenso que o número de passageiros antes da pandemia não será recuperado. Sem aumento na demanda, o resultado é a redução da frota em operação.
BRT COMO SOLUÇÃO?
O diretor ainda falou sobre Belém e o sistema do BRT (Bus Rapid Transit), que pode ser um incentivo para a demanda de transportes públicos, dependendo do nível de investimentos no projeto, que possibilitem conforto, rapidez e a menor tarifa do transporte: “Se a qualidade do serviço for bem avaliada e a tarifa acessível, pode sim trazer mais usuários”, afirmou Bicalho.
INVESTIMENTOS E DEMANDA POLÍTICA
A pesquisa da NTU ainda apontou que a queda abrupta na quantidade de passageiros pagantes, na demanda de transportes públicos, leva a falta de investimentos no segmento, afetando as melhorias que todos esperam, como a renovação das frotas de ônibus urbanos.
O anuário aponta que a aplicação de subsídios nas tarifas, a exemplo dos programas como o “Tarifa Zero”, poderiam ser a solução para o aumento do número de passageiros no transporte coletivo, porém, tudo depende da demanda governamental, já que a falta de políticas públicas envolvendo o serviço de transporte coletivo é uma das grandes causas para se ficar de olho, principalmente em ano de eleição: “depende do nível de ação dos governantes”, finalizou.