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Pesquisas demonstram como lidar com o estresse de maneira menos nociva para a saúde

Quem não tem algum nível de estresse que atire o primeiro ansiolítico. Segundo pesquisadores, o bom mesmo é adotar o estresse, em vez de se tentar se livrar de algo que é inevitável

Não tem quem não conviva com o estresse. Ele é inevitável, mas se não podemos eliminar o estresse da nossa vida, talvez a gente esteja enfrentando o danado de forma errada. Em vez de tentar evitar que ele apareça, que tal tentar conviver com ele de uma forma que o estresse não te adoeça quando ele se instalar em você? A forma como você percebe  o estresse pode mudar muito os efeitos nocivos dele no seu corpo. O que precisamos trabalhar é a forma como a gente percebe o estresse. 

Em 2012, a Universidade de Wisconsin publicou um estudo seminal, que é aquele tipo de pesquisa que planta uma semente de um conceito ou ideia. Pois bem, este estudo seminal da Universidade do Wisconsin ouviu 28 mil pessoas, observando como cada uma percebia o estresse. Os pesquisados responderam duas perguntas:

1- Durante 12 meses, você diria que experimentou

  • muito estresse
  • Uma quantidade moderada de estresse
  • relativamente pouco estresse
  • quase sem estresse

2-  Qual o efeito do estresse em sua saúde?

  • Bastante
  • Algum
  • Quase nenhum
  • Nenhum

Agora vem a melhor parte. Nove anos depois, os pesquisadores analisaram as taxas de mortalidade no grupo de estudos. Os resultados são muito surpreendentes. A pesquisa descobriu que ter muito estresse na vida não estava relacionado a mortes prematuras. Agora, no grupo de pessoas que acreditavam que isso afetava sua saúde, o risco de morte prematura bateu a casa dos  43%. Pois é! Não é o estresse sozinho que acaba fazendo mal, mas o estresse junto com a percepção que você tem dele é que te adoece. Como isso acaba acontecendo?

Bem, espero que você já faça parte do grupo de pessoas que acredita firmemente que somos uma coisa só: mente e corpo. A partir disso, você sempre poderá trabalhar duas percepções do estresse. A primeira, que é a visão comum, é a de que ele está fazendo mal ao seu corpo. A segunda, que é uma visão alternativa, é que o  estresse é algo que está te dando força e energia para você superar aquela adversidade que a vida colocou na tua frente. 

Imagem/Reprodução

Quando o estresse chega na gente, nossas respostas biológicas mudam e são bem perceptíveis. Bora pensar quais são nossas reações quando essas mudanças biológicas acontecem no nosso corpo. Como eu encaro essas mudanças?

Vamos para a  primeira.

Quando estou estressado, meu corpo libera adrenalina e cortisol. Meu coração bate mais forte. Isso significa que:

  • O estresse está aumentando meu risco de doenças cardiovasculares e ataque cardíaco. Essa é a percepção comum sobre o estresse.

Mas pode ser…Meu coração está trabalhando mais duro e meu corpo está mobilizando essa  energia para me preparar para este desafio. Essa seria uma mudança de percepção do estresse. Uma visão alternativa sobre o estresse, entende?

Vamos pra outra percepção de mudança biológica do nosso corpo causada pelo estresse.

Quando estou estressado, minha resposta ao estresse está fazendo com que minha taxa de respiração aumente. Isso significa que:

  • A Visão comum é: Minha respiração rápida é um sinal de ansiedade. Fico preocupado com a forma como o estresse está afetando minha saúde física e mental.

Qual seria a Visão alternativa? : eu deveria respirar fundo. Minha respiração mais rápida significa que mais oxigênio está chegando ao meu cérebro para que eu possa pensar com mais clareza.

E por fim uma outra situação de mudança biológica causada pelo estresse e como posso ou devo percebê-la para que o estresse não me adoeça.

Quando estou estressado, meu coração e meu sistema circulatório respondem, fazendo com que minha pressão arterial suba. Isso significa que:

  • Bem, na Visão comum, a gente percebe como…posso sentir minha pressão arterial subindo. Isso não pode ser bom para minha saúde.

Mas se trabalharmos uma Visão alternativa, podemos mudar isso para… as mudanças circulatórias estão permitindo que mais oxigênio e nutrientes alimentem meus músculos. Estou me sentindo mais forte e pronto para o desafio que tenho pela frente.

Talvez você esteja pensando que isso seja papo de autoajuda, mas outro estudo científico prova que a maneira como você percebe o estresse pode alterar os efeitos dele no seu organismo.

Um trabalho dos pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Harvard vai nessa direção. Eles pagaram 25 dólares para 50 pessoas num estudo de estresse induzido. O teste envolve dar uma palestra na frente de um grupo de avaliadores muito rigorosos. O grupo que aprendeu a repensar o papel do estresse em suas vidas se saiu muito melhor no teste. Eles deram melhores discursos e foram avaliados como mais confiantes. Eles sorriam mais e tinham uma linguagem corporal mais positiva. E os indicadores fisiológicos mostraram que seus corpos também estavam administrando a resposta ao estresse melhor do que aqueles das cobaias que foram ensinadas a ignorar o estresse ou não receberam nenhum conselho. Quer dizer: em uma situação difícil, o estresse te torna mais forte.

A melhor maneira de gerenciar o estresse não é reduzi-lo ou evitá-lo, mas sim repensá-lo e até mesmo adotá-lo.”  Mas que tipo de coisas eu posso fazer para eu conviver melhor com o estresse, já que a grande saída é adotar o danado na minha vida? Praticando o estresse, ora. Os cientistas chamam pra isso de inoculação do estresse. É mais ou menos como a gente se expor a um vírus. Isso faz com que nosso corpo crie anticorpos pra combater aquele vírus, portanto a exposição regular, em pequenas quantidades diárias, de estresse, pode fazer com que o nosso corpo não sofra os efeitos mais danosos quando um evento estressante se instalar em nossas vidas. Faz sentido?

A melhor maneira de melhorar o estresse é praticá-lo. Os cientistas chamam isso de “inoculação de estresse” e, assim como a exposição a um vírus irá inoculá-lo contra a contração de um vírus uma segunda vez, a exposição regular a pequenas quantidades de estresse pode inoculá-lo dos efeitos mais prejudiciais do estresse quando você sofre um grande evento estressante na sua vida.

Se eu passar por uma casa em chamas, meu coração vai disparar, vou entrar em pânico e provavelmente não conseguirei fazer nada pra resolver aquela questão, porque estou em choque. Sabe por que os bombeiros, felizmente agem diferente, na mesma situação? Porque eles treinam arduamente para esta situação estressante e o treino tem pequenas doses de estresse em cada atividade.  Praticam o transporte daqueles equipamentos super pesados, exercitam navegar em edifícios e escadas sem nenhuma iluminação e cheios de fumaça e enfrentam um calor violento treinando tudo isso nessas condições. Eles acabam sabendo o que esperam, porque treinaram para isso. Mas eu não sou bombeiro, então como posso fazer coisas para inocular dentro de mim o vírus do estresse? Sai da zona de conforto e te permite viver atividades que naturalmente te geram desconforto.

Dançar pode ser um destes exercícios. Se você se sente inseguro para dançar em público, despertando em você insegurança e medo, então esta atividade vai liberar em você uma pequena dose de estresse induzido. Que tal contar uma história na frente de uma multidão? Ou participar de uma competição de poesias? Treinar para correr 10 km. Enfim, pense em algo que te desafia e que te causa desconforto quando pensa em fazer, e faça.  Se expor repetidas vezes a situações estressantes pode mudar a resposta biológica do teu corpo ao estresse.

Imagem/Reprodução

E pra fechar a questão, de como me relacionar melhor com o estresse, fazendo com que ele me fortaleça em vez de me adoecer, tem a questão da resiliência. Essa capacidade humana de se adaptar em meio às adversidades da vida. Essa capacidade essencial de se recuperar de experiências difíceis. O que alguns pesquisadores propõem, é que a resiliência também pode ser exercitada e conquistada. E vamos combinar, quanto mais resiliente eu sou, mais forte sou para enfrentar as situações estressantes da vida.

Os 10 comportamentos para construir resiliência; basta escolher os dois, três ou quatro que falam com você.

1. Adote uma atitude positiva. O otimismo está fortemente relacionado à resiliência.

2. Reformule a situação. Assim como os sujeitos estressados ​​do estudo foram ensinados a reavaliar o estresse como seu amigo, as pessoas que são resilientes normalmente reformulam uma situação negativa como uma oportunidade de crescimento, aprendizado ou mudança.

3. Concentre-se nas crenças centrais. Pessoas com uma crença fundamental profundamente arraigada, uma fé forte ou um compromisso com o altruísmo geralmente mostram mais resiliência.

4. Encontre um modelo de papel. Ver outra pessoa que passou por uma adversidade pode fortalecer sua própria resiliência.

5. Enfrente seus medos. Enfrentar um desafio, em vez de evitá-lo, o ajudará a enfrentá-lo e a ganhar confiança.

6. Recorra à religião ou espiritualidade. Para muitas pessoas, uma fé forte ou crenças espirituais podem alimentar a resiliência.

7. Procure apoio social. Pessoas que procuram amigos, família e grupos de apoio se saem melhor em momentos de estresse.

8. Exercício físico. Além de melhorar o humor, alivia o estresse e torna você fisicamente mais forte.

9. Inocular contra o estresse. Desafie-se regularmente nas áreas de inteligência emocional, integridade moral e resistência física.

10. Encontre significado e propósito. Ter um propósito claro na vida pode aumentar sua força emocional durante os momentos difíceis.

É isso!  se a gente não pode evitar o estresse, e não podemos, nos resta adotá-lo e fazer dele um grande aliado.