Depois de dois anos sem vir a Belém por conta da pandemia de covid-19, a Banda carioca Biquini – que tirou recentemente o “Cavadão” do nome, finalmente retornou aos palcos paraenses. Donos de um carisma único na música brasileira, a banda tem uma base enorme de fãs no estado do Pará, e é sempre garantia de show lotado.
Depois de um chá de cadeira em Brasília, por conta de um atraso no voo, a banda chegou na capital paraense na tarde da última sexta-feira, 13, para um show no festival Pará Rock Fest, que também contou com a presença do músico Frejat, e mais uma vez emocionou a plateia.
Mas antes de fazer todo mundo cantar, pular e se emocionar nos palcos de Belém, o vocalista do Biquini, Bruno Gouveia, conversou exclusivamente com a equipe do BT pra falar um pouco sobre Belém, o retorno aos palcos e sobre a importância de letras como “Zé ninguém” na realidade brasileira.
Bruno começou nossa conversa falando sobre o retorno aos palcos pós pandemia. O cantor sempre faz questão de dizer que o melhor show do Biquini será “o próximo”, referindo-se a energia que sempre tem no palco. Depois de tanto tempo sem fazer shows, a resposta passou a ter uma mensagem ainda mais especial:
“A gente colocou toda nossa esperança durante o momento em que ficamos presos (em casa), sem poder fazer os nossos shows, nos agarrando a essa ideia [do retorno], a ideia de que ‘ok, o próximo show após a pandemia vai ser marcante’. Então tenha certeza, a próxima vez que você ver um show do Biquini vai ser carregado de emoção não só nossa, mas também de quem esperou junto com a gente por tudo isso. Nós esperamos juntos por esse momento é isso que é o mais importante. Foi um momento muito difícil, perdemos muitas pessoas queridas, perdemos conhecidos e desconhecidos, mas conseguimos passar através dos tempos, como diz nossa música, e estamos hoje preparados pra fazer um novo show em que vamos abrir as comportas dessa saudade e de todo esse esperança que tivemos de guardar.” Afirmou Bruno empolgado com o retorno ao estado.
Bruno reafirmou a ligação afetiva da banda pelo povo paraense que sempre está presente em peso nas apresentações do Biquini no estado.
“Vai ser um momento especial pra gente. Nós temos um carinho enorme pelo Pará, pela cultura e por tudo que o Pará é dentro do Brasil. Nós temos muitos países dentro do Brasil, e o Pará é um desses casos. O estado tem uma cultura diversificada, não só na questão do linguajar, da culinária, mas também acima de tudo do orgulho que o paraense tem do seu estado e isso é muito bonito.” Afirmou Bruno
Perguntamos se o carioca tem alguma banda paraense pela qual há um carinho especial e Bruno lembrou da banda de Heavy Metal Stress, fundada nos anos 70 e pioneira do gênero no Brasil. Ele também citou outros artistas marcantes do estado como Gaby Amarantos e Fafá de Belém.
“A primeira coisa que me vem à cabeça [quando penso em bandas paraenses], é uma banda de rock, que é o Stress, uma banda metaleira que é um máximo. Mas claro, essa é a primeira coisa que vem à cabeça, pois tem muita gente boa em vários estilos musicais. O Pará tem Gaby, tem Fafá, que é incrível, tem muita gente boa que faz o Pará ser um estado tão artístico e tão plural.
Sobre a força da mensagem das músicas de bandas consagradas no Brasil através das décadas como Legião Urbana, Paralamas e o próprio Biquini, Bruno reafirmou o sentimento de muitos brasileiros de que continuamos sendo “Zé ninguém”.
“É interessante perceber que nossas músicas não foram perdidas em um tempo atrás ou foram apenas inseridas em um contexto. O Brasil infelizmente não evoluiu em muitos aspectos, e usando uma letra do Biquini, a gente continua sendo um ‘Zé ninguém’. O momento da música Zé ninguém [nos shows] continua sendo de catarse e ao mesmo tempo de um grande desabafo, de uma grande esperança por dias melhores, para que um dia a gente possa ver essa letra como algo renegado ao passado e não ao nosso cotidiano. Todos os artistas da década de 80 que tiveram essa conotação mais forte e política e que pesaram a caneta na hora de escrever fizeram isso por um amor grande ao país por uma vontade que o país pudesse ser melhor. Um ‘Que país é esse?’ é na verdade uma indagação que busca uma resposta sobre pensar que ‘não é possível que o país seja assim!'” Afirmou.
Bruno encerrou nossa conversa falando sobre a gratidão por ver as várias gerações de fãs de todas as idades que passam a mensagem da banda através das décadas.
“Sou muito grato as pessoas que ouviram essa música e continuaram a passá-las de pai pra filho, de tio pra sobrinho, é algo que se faz se qualquer tipo de engajamento midiático, se faz de coração e talvez seja isso que faz a música do Biquini ser passada adiante. Se faz de coração pra coração.” concluiu o músico.
A banda promete voltar logo ao Pará, assim como os fãs aguardam.