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“Dou cambalhota de alegria”, ironiza produtor do Se Rasgum sobre ‘Rock in Rio Amazônia’

Foto: Reprodução/ Redes Sociais

O podcast e videocast ‘Amazônia no Ar’, apresentado pela jornalista Mary Tupiassu, entrevistou na última semana o produtor cultural Marcelo Damaso, um dos criadores dos festivais ‘Se Rasgum’ e ‘Sonido’. Em uma conversa de pouco mais de uma hora, ele falou sobre a criação dos festivais, falta de investimento na cultura, possibilidade de um ‘Rock in Amazônia’, e muitos outros temas polêmicos.

CRIAÇÃO DO ‘SE RASGUM’

Damaso contou de onde surgiu a ideia de um festival de música, ainda em 2003, quando a Amazônia ainda estava longe de estar em evidência. “Eu acho que se não fosse a gente, alguém teria feito. Não acho que somos os salvadores de alguma coisa, mas nós iniciamos sim o movimento. Isso veio muito de existir um cenário aquecido pra isso, uma cena autoral, algo que a gente queria falar, queria dar espaço. Não nasceu de uma intenção, nasceu de um envolvimento que a gente estava tendo com essas bandas autorais aparecendo na época”, contou.

PROJEÇÃO DE ARTISTAS

O produtor falou também sobre como o festival foi a primeira vitrine de muitos artistas que, depois, estouraram no cenário local e nacional. “A Dona Onete tocava com o coletivo Rádio Cipó, desde a primeira edição. Felipe Cordeiro já participou de seletivas do Se Rasgum. A Gaby Amarantos quando tocou lá era Techno Show. Eu acho que os festivais são as principais vitrines, as principais plataformas. O Emicida também é um bom exemplo disso, porque estamos falando de um movimento de fomentar a música e fazer isso é apostar no novo. O Emicida veio em 2010, eram três pessoas, pagamos mil reais em três passagens e ele destruiu. Ele é um cara incrível! Em 2017, ele voltou como headliner. Esse é um exemplo de tu apostar no pequeno e ele voltar headliner“, avaliou.

Se Rasgum
O cantor Emicida já participou do festival Se Rasgum, em Belém. Imagem: Reprodução/ Julia Rodrigues

MERCADO COMPETITIVO

Damaso comentou sobre como enxerga a dificuldade de artistas locais estourarem no cenário nacional e como o mercado competitivo influencia nisso. “Sinceramente, é um mercado muito competitivo. O difícil é chegar lá. Antes poderíamos falar que era investimento de gravadora, que era alguém por trás bancando para as bandas estarem em rádio e aparecerem na MTV. Mas hoje é uma disputa. Existe ainda gente com grana por trás, mas agora o mercado tá aberto, as pessoas escutam música no YouTube, em outras plataformas pagas. Todo mundo escuta música e hoje é mais difícil ainda chegar lá. Mas a gente precisa se perguntar o que é “chegar lá”. O que um artista novo quer hoje? Será que ele não quer ter uma banda pra se realizar? Quando você começa a competir pelo mercado, eu acho que muita coisa fica pelo caminho, as pessoas esquecem dos valores, do motivo de ter começado a fazer música”, avaliou.

CANCELAMENTO DE TURNÊS

O produtor cultural falou também sobre os cancelamentos das turnês das cantoras Ivete e Ludmilla, que passariam por Belém ainda este ano. “Às vezes tem uma grande produtora por trás fazendo esse artista circular, mas às vezes esse artista não vende ingresso. Tivemos esse escândalo das turnês de Ivete e Ludmilla canceladas, né? Isso foi um negócio pra gente ficar ligado. Eu não sei se tenho um diagnóstico disso, mas acho que existia uma estrutura muito grande por trás dessas turnês, anunciaram muitas cidades e não vendeu. Eu acho que o fã de música quer mais coisa, ele quer um festival, quer mais artistas. Ninguém mais sai de casa só pra um show, exceto se for uma coisa que não vai mais acontecer – como a turnê dos Titãs”, avaliou.

‘ROCK IN AMAZÔNIA’

Marcelo Damaso criticou a possibilidade de um festival com a marca de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, em Belém, próximo da COP 30 que vai ser realizada em novembro de 2025 na capital paraense. “Como é que eu posso reagir a uma notícia como essa em um ano em que eu tô dependendo de um monte de coisa, com três cartas da Semear sem captar, uma carta de Rouanet artigo 18 sem captar. E eu não tô duvidando da relevância dos meus projetos. Eu tô falando de um projeto de música instrumental em um cartão postal da cidade. Tô falando do ‘Se Rasgum’, que tem uma plataforma gigante”, disse.

Imagem: Reprodução/ Internet

E seguiu: “Imagina, em um ano que eu perco o patrocínio do Sonido, não faço o festival. Agora, tô vendo festival que nunca aportou grana aqui, fazendo sua edição. Eu não posso ficar feliz com isso. E eu não tô falando nem do Rock in Rio ainda”, lamentou.

FALTA DE VERBA PARA O ‘FESTIVAL SONIDO’

O produtor musical criticou também a falta de patrocínio para o ‘Festival Sonido’, que deveria ter sido realizado no primeiro semestre deste ano. “Eu não consigo explicar [a falta de patrocínio]. E é um projeto que é artigo 18 na Lei Rouanet, isso significa que ele dá 100% de isenção de imposto de renda para as empresas. São 20 anos que eu ouço falar em fundo de Cultura e isso nunca saiu do papel. O que a gente tá vendo é que a Cultura está, mais uma vez, sendo definida pelo departamento de Marketing de grandes empresas. Eles estão decidindo o que é cultura nesse país”, criticou.

COLDPLAY EM BELÉM?

Damaso falou ainda sobre a realização da COP 30 em Belém e como investimentos deveriam ser voltados a fomentar o cenário local. Além disso, ele comentou sobre a possibilidade de um show do Coldplay na capital paraense. “Foi difícil pra caramba ficar sem o sonido, mas está sendo muito mais difícil fazer o Se Rasgum. E tá errado, né? Eu não sou contra a COP, acho que existe um legado a se deixar, principalmente para o lado estrutural da cidade. A primeira vez que ouvimos falar da COP aqui, aí comemora, né? Mas aí no primeiro ano dessa pré COP, que a gente sente esse baque, de festivais vindo de fora, não dá pra sorrir o tempo todo quando a gente tem essa notícia de Rock in Rio em Belém”, disse.

E seguiu: “Coldplay tudo bem. É abertura da COP, acho que não deve ser verba do Estado, deve ser iniciativa privada. E é normal que uma cidade que recebe um evento tão grande tenha um show grande e a altura para a abertura”, defendeu.

A banda é cogitada para um show de abertura para a COP 30 em Belém. Imagem: Reprodução/ Anderson Carvalho

Ele afirmou também que artistas e produtores locais se mostram preocupados com o cenário atual da COP 30 em Belém. “Eu vejo muita gente preocupada, mas era pra estar todo muito feliz. Em todos esses anos eu nunca tive tanta dificuldade, e é preciso que as autoridades, alguém que esteja diante de tudo o que está acontecendo e tomando decisões, que preste atenção no que está acontecendo, porque isso é uma coisa que precisa ser discutida”, disse.

SE RASGUM 2024

Damaso aproveitou a oportunidade para listar algumas das principais atrações do ‘Se Rasgum’ 2024 e convidou o público a participar do evento. “Eu acho que todo ano é legal, sinceramente. Todo ano eu olho pra programação e penso “nossa, que coisa maravilhosa isso que a gente fez”. Temos uma noite gratuita no dia 11/09, no Music Park. Show da Céu, Ypu, Molho Negro, e mais. Aí na quinta-feira tem no píer das Onze Janelas, com cinco shows e tudo e aí vamos pro Teatro Margarida Schivasappa, com Tom Zé, Móbile Lunar e um show com homenagem ao Walter Freitas. E aí no dia 14 são 12h de show, com 16 bandas, dois palcos, DJs – e aí vai ter Novos Baianos, Ana Frango Elétrico, a Bebé, Deekapz, Natália Matos, O Cinza, Marcia Griffiths, Diiv, Fin Del Mundo, Valéria Paiva, tributo ao Tonny Brasil. É isso, quero que todo mundo vá”, convidou.

O produtor ainda contou uma novidade empolgante durante a entrevista: a criação do ALMA – uma conferência de música envolvendo os países que fazem parte da Amazônia. “Viajando muito pra fora, nós acabamos criando uma rede muito incrível com programadores e produtores do mundo inteiro. Nessa, de criar essa rede, fora a que já temos no Brasil que é muito grande, a gente resolveu criar a primeira conferência de música internacional da Amazônia Legal, que se chama “ALMA – Amazônia Legal Música e Arte”. E ela vai acontecer em abril de 2025, vai ser um negócio bem legal”, contou.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA: