Criado em 2013, o LabVerde é uma plataforma interdisciplinar sediada na Amazônia brasileira, focada no desenvolvimento de uma linguagem artística sobre o meio ambiente, dedicada à produção e democratização de conhecimento e publicações por meio da organização de residências, palestras, exposições, festivais e workshops. Entrando em seu nono ano, o LabVerde se propõe a reunir artistas para residência e imersão no meio da floresta amazônica, e abre o LabSonora para propostas de artistas da região amazônica.
Artistas, cientistas, povos indígenas e outros agentes intelectuais se unem para reconhecer e narrar a natureza, para tentar criar novas formas de ser e interagir com o ambiente natural e, juntos, imaginar novas formas dos ecossistemas atuais. O BT conversou com a diretora do LabVerde, Lilian Fraiji, sobre esse projeto que foca a mesclagem cultural da região amazônica.
Sobre a programação de experimentação nas reservas ambientais e comunidades indígenas, Lilian afirma que “A gente tem uma metodologia aqui da residência que é mesclar informações teóricas com informações mais sensoriais e ativar sensorialidades e a consciência então a nossa programação envolve a participação de cientistas, especialistas locais, xamãs que vão falar um pouco sobre o contexto da Amazônia com palestras com caminhadas dentro da floresta e também aulas mais teóricas né.” declara a diretora do projeto.
A residência, que será realizada de 22 de setembro a 1 outubro de 2022, também inclui uma série de discussões, oficinas, palestras e apresentações de arte para aprofundar sua compreensão da diversidade sociobiológica da Amazônia.
Lilian fala sobre a cena artística da Amazônia Legal e também sobre a importância nacional que essa cultura possui e considera que a região é uma das mais ricas culturalmente do mundo: “Nós temos uma grande diversidade de povos com suas culturas temos diferentes, povos que migraram também pra região Amazônica, de etnias diferentes, mais também contextos históricos, culturais, outros países que migraram para nossa região, então nós congregamos povos indígenas povos negros, árabes, europeus, e isso é muito rico em termos culturais.”
Lilian afirma que a parte sul do Brasil ainda tem dificuldade de enxergar a riqueza cultural da Amazônia. “Só no Estado do Amazonas nós temos 53 povos indígenas que falam 29 idiomas, então é uma riqueza extrema e o Brasil não olha pra isso, o Brasil olha a cultura sempre do ponto de vista da cultura eurocêntrica, a cultura que foi importada, a cultura do sul está deixando de olhar para essa cultura tão rica que é da Amazônia e a gente tem uma dificuldade em se inserir no mercado cultural do sul e contribuir também para as discussões culturais.” afirma a diretora.
A diretora do LabVerde, fala sobre a diversidade cultural da Amazônia e afirma que, por mais que a região seja extensa e diversa, as regiões amazônicas possuem uma identidade comum.
“O povo Caboclo, do povo que se relaciona com essa biodiversidade, o povo que se relaciona também com os desafios de viver na Amazônia. A gente pôde ver isso na pandemia, os desafios de infraestrutura, a gente não ter estrada e a maior parte da locomoção ser feita por barcos.”
Lilian Fraiji
A respeito da importância da preservação da Amazônia para o projeto LabVerde, Lilian declara: “Aqui no LabVerde nós entendemos que toda essa discussão do meio ambiente, que é uma discussão muito atual hoje no mundo inteiro, é uma discussão que também perpassa a linguagem. As artes também têm que estar contextualizadas, elas também têm que estar pautadas em relação ao meio ambiente.”
A diretora do projeto afirma também que começar a focar e discutir questões ambientais, principalmente a arte que é produzida aqui na Amazônia é essencial, já que a região possui a maior biodiversidade do mundo, ainda segundo Lilian: “O LabVerde como uma residência que está focada em discutir linguagem sobre o meio ambiente, esse é quase como o nosso mote; a importância da linguagem, a importância da cultura também para essa discussão ambiental e para a preservação da Amazônia.” afirma.
A novidade para o edital de 2022 é uma parceria com o Festival Se Rasgum, de Belém, para ampliar sua atuação em novas experiências musicais. O projeto é patrocinado pela Natura Musical e pela Oi, por meio do Método Semente de incentivo à cultura, do Governo do Estado do Pará e da Fundação Cultural Pala. Sobre a parceria com o Se Rasgum, Lilian afirma: “São dois grupos, duas produtoras culturais e também é um dos poucos projetos que eu conheço que é só voltado para a promoção de artistas da região amazônica. O que a gente está tentando aqui é promover um grande encontro não só de artistas mas também de produtores, de agentes de cultura, de curadores de pessoas que estejam envolvidas com a causa amazônica para produzir conteúdos conjuntos e para discutir a nossa situação sócio-ambiental.” conclui a diretora do projeto.
A residência Labsonora é o início de uma série de eventos culturais, incluindo uma direção de arte online e um festival em Manaus de 16 a 17 de dezembro de 2022.