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Quatro mulheres empreendedoras do Pará que você precisa conhecer

O Belém Trânsito falou com mulheres que empreendem sobre conquistas, dificuldades e os próximos passos

No dia 19 de novembro é celebrado o Dia do Empreendedorismo Feminino.  Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2014, a partir de uma iniciativa da ONU Mulheres, a data marca o protagonismo feminino à frente de seus próprios negócios e levanta debates a fim de eliminar barreiras históricas colocadas à frente das mulheres.

Segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), em parceria com o Sebrae, elas já são mais de 30 milhões no mundo do empreendedorismo. E o Belém Trânsito convidou quatro delas para contar um pouco das suas trajetórias, as iniciativas, os desafios e os próximos passos para o futuro.

Tiane Melo, Pedagoga e Criadora do Manga Poética

Tiane Melo

Professora e empreendedora, Tiane Melo, 28, criou o Manga Poética (@mangapoetica) no auge da pandemia de Covid-19. Pensado para ser um canal de poesias paraenses, o perfil no Instagram já conta com mais de 110 mil seguidores e uma loja virtual de sucesso. Perguntada sobre as dificuldades no início do empreendimento, Tiane destacou a insegurança em questões estruturais e emocionais. “A falta de experiência e de informações sobre fornecedores me deixavam com medo. Eram muitas inseguranças. E o medo de falhar mesmo, isso me rondava.”, disse a empresária.

Exercendo duas profissões, Tiane se divide entre as salas de aula, os conteúdos do perfil e as demandas da loja. “É muito intuitivo. No começo do Manga  eu estava com tempo mais livre, por conta da pandemia. Entretanto, a medida que o meu tempo foi se ocupando, eu tive que começar a fazer esse contraponto, para que os conteúdos do Manga não perdessem a qualidade.”, afirmou Tiane.

A empresária falou também sobre a rede de apoio entre as mulheres e sobre como isso é essencial para seguir em frente. “Eu não abro mão de ser uma mulher independente. E isso me fez conhecer muitas mulheres, me interligar com essas mulheres. Aprendemos umas com as outras, temos uma rede de apoio.”, disse ela.

Quanto a importância das mulheres no mercado, Tiane destaca as dificuldades enfrentadas e a importância de políticas sociais que ofereçam o suporte necessário. “Precisamos de políticas que invistam nisso. Não podemos ficar no discurso de que as mulheres são fortes, que elas conseguem fazer tudo sozinhas. Que elas conseguem ser mãe, empreendedora. Não é fácil. Precisamos de políticas que ajudem mulheres a se reconhecerem enquanto potências frente ao empreendedorismo.  Isso ajudaria até a diminuir os índices de violência doméstica, porque a partir do momento que você dá pra essas mulheres essa chance de se tornarem independentes, elas teriam a oportunidade de se livrar desse local de submissão”, finalizou Tiane.

Náhisla Macedo, Empreendedora e Criadora do Espaço Vem

Náhisla Macedo

Empreendedora, Náhisla Macedo, 33, criou o Espaço Vem (@espacovem) em 2018, a partir da necessidade de microempreendedores de um espaço onde pudessem expor seus trabalhos. Localizado na Cidade Velha, no Centro Histórico de Belém, o espaço começou com sete marcas empreendedoras e hoje já conta com mais de trinta, entre os segmentos de moda, assessórios, home decor e calçados. Perguntada sobre as dificuldades de empreender, Náhisla destacou o preconceito com as mulheres artesãs. “ A primeira dificuldade é as pessoas entenderem que uma mulher artesã é uma mulher empreendedora. As pessoas tratam isso como se fosse um hobby.”, disse ela.

Sobre possíveis apoios, a criadora do colaborativo frisa que é o apoio das próprias marcas que mantém o espaço. Entretanto, ela destaca que as Leis de Incentivo, como a Lei Aldir Blanc, também ajudam na manutenção do local. “Empreender em Belém é se reinventar. Somos uma rede que se protege pra ninguém cair. Por conta da Pandemia, fechamos por quase um ano e precisamos criar um site e um delivery. É um desafio, viver do que se acredita”, contou Náhisla.

Para ela, a ascensão das mulheres enquanto empreendedoras é coragem e reinvenção. “A luta por igualdade é constante, real e sempre existiu. É mais do que mulheres gerindo o próprio negócio, é quebra de preconceitos e barreiras sociais. Significa outras fontes de renda, satisfação social e até uma opção para trabalhar em casa enquanto cuida dos filhos. Empreendedorismo feminino pra mim é empoderamento feminino, coragem, reinvenção. Todo dia as barreiras estão aí para serem quebradas com cada conquista e com orgulho”, afirmou ela.

Sobre o futuro, Náhisla quer fazer pelos outros o que ela não teve quando começou a empreender. “Próximo passo é crescer e criar uma ‘escola’ de empreendedorismo. Para quem está começando possa ter incentivo, apoio, cursos, estudo.”, finalizou.

Sofia Paz, Criadora do Carnívoros Premium e Presidente do Pará Solidário

Sofia Paz

Mãe e empreendedora, Sofia Paz, 37, divide o projeto Pará Solidário (@parasolidario) com mais nove mulheres. Juntas elas fizeram o projeto se tornar referência em assistencialismo em Belém e Ananindeua. Hoje, o Pará Solidário tem mais de 250 crianças apadrinhadas, com uma média de 500 cestas básicas por mês e com o Centro de Transformação a ser inaugurado oficialmente amanhã, 20.

O projeto, muito sonhado por todas as envolvidas, trouxe pontos positivos e negativos  para Sofia enquanto empreendedora. “É muito positivo se tornar exemplo para outras mulheres, conseguimos inspirar elas a empreender. Por outro lado, e é muito difícil falar disso, mas no início sofremos muito assédio. Convites de homens que acham que deve acontecer uma ‘troca de favores’. É muito mais fácil negociar com outras mulheres”, afirmou Sofia.

A criadora do Carnívoros Premium (@carnivorospremium) acredita que o empreendedorismo feminino é uma rede em que as mulheres incentivam, inspiram e acreditam umas nas outras. “Ouvi uma vez que se nós temos o poder de dar a vida a alguém, ou criar e cuidar dessa pessoa, também podemos criar e cuidar do que quisermos. Nós decidimos nosso próprio tempo e não estamos disputando espaços.”, finalizou a empresária.

Bebel Lima, Sócia Fundadora do Sweet by Bebel Lima e Casa do Saulo Quinta de Pedras

Bebel Lima

A empresária e chef de cozinha autodidata Bebel Lima, 37, viu a sua entrada no mercado como uma oportunidade. A vontade de empreender fez com que ela e uma irmã assumissem um risco para fazer valer o sonho. “Eu sempre quis ser empresária, mas sempre achei que para ter uma empresa era necessário muito dinheiro pra investir, e esse não era o meu caso. Entretanto, eu vislumbrei uma oportunidade de negócios e chamei uma irmã. Juntas decidimos que valia a pena o risco de tentar”, contou Bebel.

A fundadora do Sweet by Bebel Lima (@sweetbybebellima) defende que é necessário dar oportunidades para as mulheres, além de apoio e melhores salários. “Precisamos ter as mesmas oportunidades, condições de trabalho e salários que os homens. Não podemos ser limitadas por gênero”, defendeu Bebel.

A sócia da Casa Saulo Quinta de Pedras (@casasauloquintadepedras), afirma que o empreendedorismo feminino é uma ferramenta que pode transformar empresas e pessoas. “O empreendedorismo feminino é uma realidade que precisa ser aceita. Ele é importante não só para quem abre um negócio, mas ele ajuda a transformar as empresas e a realidade de diversas pessoas. Isso garante novas visões de mercado, inspira mulheres a serem independentes financeiramente e movimenta a economia”, destacou.

Outro ponto levantado por Bebel é como essa autonomia financeira pode ser capaz de interromper ciclos de violência doméstica. “Para a mulher que empreende e conquista uma autonomia financeira, há mais chances de interromper ciclos de violência doméstica, por exemplo. Mais do que uma busca por lucro, várias delas querem construir uma história de protagonismo e realização pessoal por meio dos negócios”, finalizou a empresária.