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Retrato da mineração ilegal: a cada 10 peixes, 6 estão contaminados em rios amazônicos, diz estudo

De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e a Universidade Federal de Roraima (UFRR) divulgou, nesta segunda-feira, 29, dados que mostram três rios amazônicos que foram altamente contaminados por mercúrio derivado da mineração ilegal.

Imagens mostram sedimentos oriundos da mineração ilegal no rio Uraricoera, Terra Indígena Yanomami. Foto: Reprodução

No entanto a contaminação não se limita apenas aos rios, ela está chegando nos humanos. Mas como?

A pesquisa mostra que os peixes desses rios também foram contaminados, e algumas espécies possuem um teor de mercúrio tão alto que não estão sendo mais recomendadas para o consumo humano. Foram coletadas amostras de 75 peixes, de 20 espécies diferentes e em quatro níveis tróficos, sendo estes: herbívoro, onívoro, detritívoro e carnívoro, de acordo com a avaliação de risco à saúde pela metodologia proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mais da metade do rio Uraricoera está contaminado (57%) pelo mineral, seguido pelo rio Mucajaí que registrou 53% de contaminação em seu leito, o Baixo rio Branco tem 45% de contaminação e um trecho do rio Branco, na cidade de Boa Vista, registrou indíces que bateram os 25,5%.

Ainda segundo o estudo, o nível de mercúrio em alguns peixes já são tão altos que não há mais nível seguro para o seu consumo, independente da quantidade. Esse é o caso do filhote e outras espécies carnívoras. No entanto, a pesquisa garante o consumo possível dos peixes matrinxã, aracu, jaraqui, pacu, jandiá e outros.

Esse indíces representaram um sinal de alerta dos pesquisadores à mineração ilegal na amazônia, inclusive, em terras indígenas que, de acordo com a constituição brasileira, estariam protegidas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o que não acontece de fato.

RISCOS IRREVERSÍVEIS

A cada dez peixes coletados, seis estão contaminados no rio Uraricoera que banha a Terra Indígena Yanomami. Em 2020 um estudo revelou que o consumo de peixes contaminados por mercúrio foram responsáveis por alterações neurológicas e psicológicas em adultos e atrasos de desenvolvimento em crianças do Povo Munduruku.

A pesquisa ainda joga luz no impacto que a contaminação trazida pelo garimpo ilegal pode ter na economia local que vive da pesca em Roraima. De acordo com o estudo, o prejuízo recai direto nas atividades das comunidades que sobrevivem do rio, não só pelo trabalho, mas também pelo alimento consumido por essas pessoas.

Segundo a pesquisa, 45% do mercúrio utilizado na mineração é despejado em rios e igarapés sem qualquer tratamento ou cuidado, o que traz prejuízo não só para os animais e para a população que se alimenta dos peixes contaminados, mas também para quem manipula este material de forma clandestina.