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Ronnie Lessa diz que matou Marielle Franco por promessa de chefiar milícia no RJ

Em novo depoimento, de mais de duas horas, obtido pelo Fantástico da TV Globo, Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, contou em delação que cometeu o crime pela promessa de chefiaria uma nova milícia no Rio de Janeiro.

Ele também teria dito que acreditou que a trama ciminosa seria o negócio da vida dele:

“Não é uma empreitada, para você chegar ali, matar uma pessoa, ganhar um dinheirinho… Não”, afirmou.

Segundo Lessa, os mandante do crime seriam Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, que teria atrapalhado as investigações para acobertar os mandantes.

Ronnie Lessa Matou Marielle Franco para chefiar milícia no RJ.

A MILÍCIA

De acordo com Lessa, o pagamento dos irmãos Brazão seria um loteamento clandestino na zona oeste do Rio, em Jacarepaguá, avaliado em milhões de reais, com Lessa sendo a figura de comando da nova milícia do local.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro […]. Ninguém recebe uma proposta de receber dez milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa”

Ele apontou aos investigadores, com uso de satélite, as supostas áreas onde seriam criados os loteamentos. No relatório das investigações, a Polícia Federal afirma que não foi possível encontrar evidências concretas de planejamento para ocupar a área.

“Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”.

Segundo a delação, eles se reuniram três vezes. Na conversa, Marielle era citada pelos Brazão como um entrave para o esquema. A PF destacou que não conseguiu comprovar os encontros entre os três. A falta de registros das operadoras anteriores a 2018 impediu o cruzamento de dados dos celulares dos envolvidos no período em que teriam acontecido os encontros.

DEFESA

A defesa de Domingos Brazão afirmou que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa e que não há provas da narrativa apresentada.

Os advogados de Chiquinho afirmaram que a delação de Lessa “é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades”.

Domingos Brazão — Foto: Reprodução/TV Globo
Chiquinho Brazão — Foto: Reprodução/TV Globo

Ronnie Lessa também disse que Domingos Brazão teria afirmado que o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, participava do plano. Ele explicou como Rivaldo Barbosa atuou para tentar protegê-los da investigação depois do assassinato.

“Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo do já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: ‘ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso’. Então ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar”, relatou Lessa.

O advogado de Rivaldo Barbosa alegou que ele nunca teve contato com supostos mandantes do crime e que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Também criticou a atuação da PF, dizendo que o relatório da investigação se baseia só nas palavras de um assassino, sem provas concretas.

Rivaldo Barbosa virou chefe de polícia no Rio um dia antes dos assassinatos.

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