“Eternizei o Bolsonaro como a tchutchuca do centrão”
A frase acima está na bio do perfil de Wilker Leão. Ele, que é paraense nascido em Redenção, se apresenta também como advogado e cabo do Exército Brasileiro, ganhou grande notoriedade ao desafiar o presidente Jair Bolsonaro (PL) na frente do Palácio da Alvorada no dia 18 de agosto deste ano.
Na ocasião, o influenciador abordou Bolsonaro e, com o celular na mão e gravando o presidente, perguntou porque o chefe do Executivo limitou a delação premiada. No mesmo momento, apoiadores do presidente reagiram com xingamentos direcionados a Wilker – que é jogado no chão por um segurança.
Irritado, o youtuber continua fazendo perguntas e passa a dirigir xingamentos a Bolsonaro, como covarde e o que fez o caso ganhar maior repercussão, ao gritar que o presidente é “tchutchuca do centrão”.
O CABO DO EXÉRCITO
Polêmico e direto, Wilker Leão topou conversar com a jornalista Mary Tupiassu no quadro Incomoda e falou um pouco sobre a origem paraense e a ida para Brasília. “Eu nasci em Redenção, no Pará, mas vivi pouco tempo lá. É a minha terra, mas infelizmente eu não tenho tantas lembranças porque saí daí aos cinco anos. Então, por mais que eu tenha essa naturalidade, eu não tenho as experiências boas que o Pará tem a oferecer. Vivi muito tempo da minha vida aqui em Brasília mesmo, então acaba que por essa identificação natural da vida eu me considero mais brasiliense”, contou.
Sobre o atual status dentro do Exército Brasileiro, o influenciador contou que fez parte da organização por oito anos. “Entrei com 18 anos, naquele clássico serviço militar obrigatório que todo mundo faz a seleção. Eu tenho bastante identificação com a instituição por mais que tenha muitos erros a serem apontados em relação a realidade interna. Então, depois dos oito anos que fiquei lá, você não pode renovar. Você é desligado por tempo de serviço. Tá rolando muita fake news que eu fui expulso, mas nesse meu último ano lá eu comecei a minha profissão de conteúdo falando sobre a realidade interna da instituição, coisas que estão erradas. Foi, inclusive, assim que começou meu trabalho ali no cercadinho, que acabou culminando ali no ‘tchutchuca do centrão’. Eu cheguei a ser detido no Exército por três dias, mas foi só isso. Eu saí normalmente”, disse.
Sobre o período detido pelo Exército, Wilker afirma que o conteúdo que fazia era para ajudar outros militares. “Eu publiquei um vídeo em que o título era ‘Ajudando militares a conhecerem os seus direitos’. Eu publicava vídeos falando acerca dos direitos dos militares que muitas vezes a instituição não implementava, ou a própria legislação interna estava errada e não batia com a legislação em si, com as leis. Eu falava sobre isso e fui punido por ser um militar que falava para militares”, afirmou.
UMA QUESTÃO IDEOLÓGICA
Banido do TikTok, Wilker foi questionado sobre não se encaixar em sistemas e o que o fez procurar o presidente Jair Bolsonaro no cercadinho do Palácio da Alvorada, ainda em abril deste ano. “Além do fato dele ser o comandante supremo das Forças Armadas e que tem o poder máximo de promover mudanças dentro das instituições, ele foi capitão e se promoveu para política batendo nas questões erradas que eu vejo hoje também e que ele via em um sentido parecido lá atrás. Só que hoje, depois de 25 anos como deputado federal e mais o mandato como presidente, ele não fez absolutamente nada. Principalmente por praça – cabos e soldados, mas também por oficial. E eu fui questionar ele porque não aconteciam melhorias em relação a aspectos que ele mesmo apontava lá atrás”, disse Wilker.
Questionado se, em algum momento, se definiu como bolsonarista, o influenciador afirmou que não. “Eu torci para que o governo dele desse certo porque ele tinha excelentes propostas, mas por saber do histórico dele de não ter feito nada e por 28 anos ter tido um mandato inútil, eu já tinha um pé atrás. Mas como ele tinha excelentes propostas em termos gerais para a sociedade, eu torci para que o governo dele desse certo, mas, infelizmente, ainda em 2019 já começamos a ver o governo desandar”, afirmou.
Wilker falou, ainda, sobre os questionamentos sobre ser petista ou não. “Talvez eu já tenha sido um pouco de esquerda. Principalmente pelo histórico que eu vivi dentro do Exército, de certa “opressão” do sistema. Mas, desenvolvendo essa minha questão ideológica, eu me vejo como um cara de direita. Não a direita que o bolsonarismo finge representar, porque eles não representam a direita”, declarou.
ABORTO
Outro ponto debatido por Wilker foi sua posição declaradamente contra a legalização do aborto. Para o influenciador, o ‘direito à vida’ está acima de tudo. “Eu acredito que tem princípios que são fundamentais na mente de cada um. Eu acredito que o direito à vida é o mais absoluto que a gente tem. Por exemplo, essa questão do feto que está ali e foi gerado, eu acredito que o ideal, por mais que a gente tenha que discutir e considerar toda essa questão acerca da vida da mulher, a vida daquela criança não tem que ser penalizada em razão de uma escolha da mãe. Por exemplo, a gente tem métodos hoje para que esse ‘problema’ seja resolvido. A mulher que não tem condição de cuidar da criança, emocional, financeira ou de apoio da própria família, é só você entregar a criança para a adoção”, defendeu.
TCHUTCHUCA DO CENTRÃO
Questionado sobre as idas ao Palácio da Alvorada, Wilker Leão afirmou que vai todos os dias ao encontro do presidente Jair Bolsonaro e contou o que aconteceu no embate entre os dois no dia 18 de agosto. “Há 55 dias eu vou, religiosamente, todos os dias, de segunda a sexta. Eu fui pra ser mais um dia questionando bolsonarista, inclusive estava fazendo isso quando a comitiva dele se dirigiu até nós. Ele parou, desceu, foi rolando a bajulação e eu fiquei na espreita esperando o momento ideal de fazer a pergunta”, lembrou.
O influenciador afirma que todos os questionamentos direcionados ao presidente foram baseados em fatos. “Foi com questionamento acerca de fatos ruins do governo dele. Como ele estava, no final das contas, fazendo tudo o que a esquerda queria senão a esquerda voltava – segundo o discurso hipócrita dele. Aí foi o momento que eu falei ‘você é tchutchuca do centrão, eu tô aqui todo dia para te combater, seu covarde!’. Aí ele entrou no carro”, contou.
E seguiu: “Eu continuei falando, chamando de tchutchuca do centrão, aí ele [Bolsonaro] sai furioso do carro, acho que ele deve ter ficado pensando ‘esse caro não tá maluco de chamar o mito que eu sou de tchutchuca do centrão na frente dos meus apoiadores’. Aí ele falou ‘vem cá, vou conversar contigo’ e já me puxou pela gola. Sorte que era a camisa do São Paulo Futebol Clube, a única que o Bolsonaro não usou ainda, ela resistiu a ele e a não rasgar pelo puxão que ele me deu. Ele tentou pegar o meu celular e eu desviei”, narrou Wilker.
VEJA A DISCUSSÃO DE WILKER E BOLSONARO:
BOLSONARISMO
Questionado sobre o movimento bolsonarista que ganhou força em 2018, Wilker afirmou que os eleitores foram enganados pelas propostas de Bolsonaro. “O que se fala do Bolsonarismo é que ele representa o estelionato eleitoral, no sentido de que com propostas boas ele enganou a população brasileira em diversos sentidos. Como o combate à corrupção, de fazer coisas diferentes da esquerda. Essas pessoas que votaram nele, com certeza, foi em completa boa fé. Inclusive, isso é o que me entristece hoje, porque esse pessoal que representava a direita de verdade naquela época dizia ‘pô, se ele errar, nós tiramos ele’, mas isso não aconteceu. Os caras se tornaram petistas de verde e amarelo que idolatram o seu político de estimação”, afirmou.
Wilker comentou, ainda, sobre o sigilo de 100 anos impostos sobre os gastos de Bolsonaro. “Ele gasta milhões no cartão corporativo e coloca sigilo de 100 anos para que ninguém saiba com o que, de fato, ele gasta esses milhões. O Tribunal de Contas da União (TCU) apurou que, em dois anos, ele gastou mais do que Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Só que para acenar para os apoiadores dele, para ele fingir que ele é do povo, por mais que ele não respeite o dinheiro público e gaste um absurdo, ele vai em um churrasquinho de gato de esquina, come um churrasco com farofa, se suja inteiro para passar uma imagem de ‘olha como eu sou do povo, eu sou gente como vocês, eu sou só um humano imperfeito na presidência que tá tentando’, mas ele não está tentando. Só que como essas pessoas não acompanham política, para eles é suficiente essa imagem que o Bolsonaro passa, de que ele é um cara anti-sistema tentando fazer a parte dele. Sendo que hoje ele é o sistema”, afirmou.
LULA
Sobre a anulação do processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Wilker afirma que a decisão não apaga a corrupção que, segundo ele, aconteceu. “A gente não tem que suportar, enquanto povo que acredita no potencial desse país, alguém que é claramente corrupto. Que hoje é um ‘descondenado’, mas o fato do processo dele ter sido anulado, não significa que ele é inocente. Em termos jurídicos e judiciais, é como se tivesse deixado de existir aquele processo e aquela condenação, mas na minha opinião ele é corrupto e as provas não deixam de existir”, afirmou.
VEJA A ENTREVISTA COMPLETA COM WILKER LEÃO: