A jovem Angélica Rodrigues, de 26 anos, morreu após ter 85% do corpo queimado enquanto tentava cozinhar com etanol. A diarista morava sozinha em um barraco na região periférica da cidade de São Vicente, SP. Com a pandemia, Angélica ficou sem trabalho e sem dinheiro para comprar um botijão de gás, que está custando em média R$112,54.
A mãe de Angélica, Silvia Regina dos Santos, 43 anos, disse em entrevista que a filha vinha enfrentando graves problemas financeiros e que, com o aumento do preço dos alimentos e do gás de cozinha, sua única alternativa foi cozinhar utilizando o etanol, que conseguiu comprar em um posto de gasolina.
“Ela pegava uma lata de sardinha e colocava o álcool, usando como espiriteira (espécie de fogareiro). Punha fogo e a panela em cima. No dia do acidente, ela pensou que a chama do potinho tinha apagado e virou o galão de álcool, mas o fogo subiu para o galão. Ela se assustou, sacudiu o galão, e o fogo acabou se espalhando no corpo todo”, contou.
Apesar da gravidade do acidente com a filha, Silvia diz que só ficou sabendo do ocorrido uma semana depois de ela ter sido internada no Hospital Municipal de São Vicente. Ela garante que os funcionários não entraram em contato com a família.
Angélica estava sem celular porque precisou vender o aparelho para comprar comida. A jovem conseguiu emprestar o aparelho de outra pessoa e fazer uma publicação no Facebook onde contava sobre o acidente. Outras pessoas viram a publicação e avisaram Silvia sobre o estado da filha.
O hospital da cidade não teria estrutura para atender pacientes queimados, então Angélica precisava ser transferida para um hospital de referência. Silvia diz que iniciou uma “verdadeira batalha” para conseguir ajuda para a filha.
Apesar de ter conseguido a transferência para o Hospital Geral Vila Penteado, Angélica não resistiu aos ferimentos e veio a óbito na última quarta-feira (6). O sepultamento aconteceu neste domingo (10) em Praia Grande.
Silvia criticou a atual situação econômica do país e a inércia do governo, que na sua opinião foram responsáveis indiretas pelo que aconteceu à filha. “Se a Angélica tivesse condições de comprar um botijão de gás, isso não teria acontecido. Tenho 43 anos e nunca na vida enfrentamos uma situação financeira tão difícil. Ela contou que estava comendo só arroz e miojo todo dia. Era o que o dinheiro dava para comprar”.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que o estado da paciente vinha sendo monitorado.
“O caso era gravíssimo e, mesmo sendo encaminhada para o Hospital Vila Penteado, uma das maiores referências para queimados do Estado, a paciente não resistiu aos ferimentos e faleceu”, afirmou a Secretaria, em nota.
A Secretaria da Saúde do Município de São Vicente informou que quando um paciente é internado em estado consciente, uma assistente social avisa imediatamente os familiares por ela escolhidos.