//

Sessão azul: Pará sanciona lei que obriga sessões especiais de cinema para pessoas com autismo

Foto: Reprodução.

Nesta quinta-feira, 28, foi publicada no Diário Oficial da União, a lei “Sessão Azul”, que obriga os cinemas do Pará a reservar,no mínimo, uma sessão por mês para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Governador do Pará, Helder Barbalho, sancionou a lei que deve entrar em vigor 90 dias depois da publicação oficial.

Lei publicada no Diário Oficial da União. Foto: Reprodução.

A sessão azul terá que ser adaptada para o público alvo e tem algumas condições especiais:

  • Durante a sessão as luzes deverão estar levemente acesas;
  • O volume de som será reduzido; 
  • As pessoas com Transtorno do Espectro Autista e seus familiares terão acesso irrestrito à sala de exibição, podendo entrar e sair ao longo da sessão, sempre que desejarem.
  • Caso a totalidade das vagas não seja preenchida por autistas e seus familiares em até cinco dias da data da referida sessão, o estabelecimento fica autorizado a disponibilizar as vagas restantes ao público em geral, limitado à metade dos assentos

Os cinemas são obrigados, ainda, a colocar na entrada de cada sala da sessão azul o símbolo mundial do espectro autista.

ALÍVIO

Samara Lopes, mãe do pequeno Carlos Daniel, de 4 anos, se mostrou muito feliz com a nova lei. Ela afirma que as dificuldades encontradas para levar o filho, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), ao cinema são muitas. “Nossa, pra mim e principalmente para meu filho que é apaixonado por cinema foi uma grata surpresa, porém nem sempre é possível devido às questões sensoriais que envolvem meu filho, questão de som muito alto, cinema muito escuro tendem a deixá-lo desorganizado na sala, então eu tinha que ter muito cuidado na hora de levá-lo, verificar se a sessão estaria muito cheia”, disse.

Ela contou ainda sobre já ter saído de sessões por que o filho não conseguiu permanecer na sala de cinema. “Eu já tive experiências de ir ao cinema e não poder terminar de ver o desenho com o meu filho porque ele não conseguiu permanecer na sala. E é muito difícil pra mim, como mãe, pro meu esposo, como pai, ver que o nosso não consegue curtir um desenho, algo que é pra ser um prazer, como outra criança”, lamentou.

Samara Lopes e o filho, Carlos Daniel. Foto: Arquivo Pessoal.

Para Samara, saber que vai poder levar o filho ao cinema sem maiores preocupações é um alívio. “Agora com essa lei eu vou poder levá-lo sem medo de que algo viesse a acarretar uma crise, então estou muito feliz de saber que meu filho poderá ir ao cinema como qualquer outra criança e curtir uma sessão sem esses problemas devido ser adaptada”, comemorou.

FISCALIZAÇÃO

A respeito das adaptações necessárias para que a sessão aconteça, Samara se mostra preocupada e diz esperar que tudo seja respeitado. “Eu espero que essa sessão venha a ter, primeiramente, o peso da adaptação que um autista precisa. Na questão do som, da luz, na questão de ter pessoas preparadas pra ajudar. Precisamos de pessoas que compreendam dentro do cinema, que tenham esse olhar do que é a pessoa dentro desse espectro”, disse ela.

A mãe de Carlos Daniel disse ainda que espera que a fiscalização aconteça para que a lei seja respeitada. “Eu espero que haja fiscalização, para que os cinemas se adequem realmente dentro do que a lei está propondo, mas também espero que eles tragam capacitação para s profissionais que estarão ali atendendo essas famílias”, pediu Samara.

Para Patrícia Castro, presidente da ONG Amigos e Pais Autistas de Ananindeua (APAN), já estava na hora da lei entrar em vigor. “Há anos os cinemas não respeita as gratuidades. Alguns, quando dão a gratuidade para o autista, cobram o ingresso do acompanhante. Fora isso, é necessário uma sessão adaptada, com luz e som adaptados, para eles conseguirem assistir algo sem causar sofrimento”, afirmou.

Patrícia Castro com o marido, Pedro e os filhos Kellen e Kevin, ambos com autismo.

Patrícia disse ainda que acredita que esse é um salto quando se fala em inclusão. “Estou confiante que os cinemas se adaptem, nossos filhos precisam ser tratados com mais dignidade. Já chega de segregação, preconceito e restrições do uso de lugares públicos e privados. Estou confiante que esse não é apenas um pequeno passo, mas sim um salto quando se fala em inclusão no entretenimento de nossos azuis”, afirmou.