A crise causada pela pandemia de Covid-19 afetou diversos setores no mundo inteiro. No Brasil, o transporte foi um dos que mais sentiu o baque da crise sanitária. Conforme já tratamos em nossa série, as dificuldades do horários de pico, a falta de estruturas de qualidade e as rotinas pesadas dentro dos ônibus foram alguns dos problemas frequentemente citados pelos usuários. Por outro lado, as empresas afirmam que a falta de suporte, principalmente durante a pandemia, prejudicou o setor. Esse subsídio, visto como essencial para a sobrevivência do setor, viria para ajudar tanto companhias quanto passageiros.
O sistema, já muito castigado, ainda precisa lidar com fatores que prejudicam a rotina do mesmo. É o caso dos transportes clandestinos, ou irregulares, que acabam por “roubar” exclusivamente os passageiros pagantes dos transportes regularizados, já que o clandestino não transporta gratuidades e meia-passagem. Com menos passageiros pagantes sendo transportados no sistema regularizado a passagem vai ficar mais cara, já que o cálculo da tarifa precisa levar em conta a receita e as despesas do sistema.
O Diretor de Operações da Setransbel, Natanael Romero, afirma que essa migração é nociva para o sistema e chama a concorrência de desleal. “O transporte clandestino é nocivo ao sistema, porque não tem como prioridade o usuário, não respeitam a regulamentação, competem com o transporte oficial de forma desleal, não garantem as mínimas condições de circulação e segurança determinadas pelo Detran, ministério do Trabalho e Semob, colocando em risco os próprios motoristas e usuários. Trabalham somente nos horários que lhes são interessantes”, discutiu ele.
Natanael ainda chamou atenção para como o sistema irregular pode prejudicar os usuários dos transportes regularizados. “A tarifa é calculada levando em consideração todos os custos e a quantidade de passageiros transportados. Assim a tarifa é diretamente afetada, pois com menos passageiros o custo da tarifa sobe”, calculou.
O BT questionou se, em um cenário que contasse com esses veículos devidamente regularizados, eles poderiam se juntar ao sistema e melhorar a experiência dos passageiros. Para Natanael, eles não têm estrutura para atender às demandas. “O transporte público de Belém é gerido pela Semob e há um conselho deliberativo. Independente de quem opera o sistema, o operador tem que cumprir com as condições mínimas estabelecidas. A clandestinidade não atende estes requisitos e não tem estrutura para isso”, afirmou.
O Diretor de Operações disse ainda que os transportes irregulares não estão dispostos a seguir as regras estabelecidas para rodar na capital. “A tarifa não cobre os custos e não estão dispostos a seguir as regras estabelecidas como rodar regularmente fora dos horários de pico, transportar gratuidades que hoje correspondem a 25% dos passageiros, rodar até as últimas horas do dia, mesmo com poucos passageiros, manter carros em perfeitas condições e ainda pagar todos os impostos envolvidos”, disse Natanael.
A falta de fiscalização, falta de segurança, falta de cumprimento de horários, não transportar gratuidades e estudantes, não gerar empregos formais, a falta do recolhimento de impostos e a ausência do Seguro de Responsabilidade Civil – que é obrigatório para as empresas regulares, para a cobertura em casos de mortes decorrentes de acidentes no trânsito – são apenas algumas das realidades verificadas no transporte clandestino ou irregular, mas as diferenças não param por aí, já que além de ter que cumprir com tudo isso o transporte regularizado também realiza investimentos para melhorar a experiência dos passageiros dentro dos coletivos, como exemplos nos últimos anos temos a biometria digital e facial, o uso correto do vale transporte, Circuito Fechado de TV (CFTV), GPS, entre outros. Mas esse assunto nós vamos conversar na próxima matéria.