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UFPA propõe ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação a criação do Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica

Uma comitiva da Universidade Federal do Pará (UFPA) se reuniu, no último dia 14 de julho, com a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, para apresentar a proposta de criação do Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica (CISAM). O centro visa integrar e fortalecer os grupos de pesquisa instalados na região, consolidando e potencializando as competências e experiências de pesquisa da Amazônia na própria Amazônia.

No encontro realizado no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em Brasília, o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, apresentou a proposta, junto com o vice-reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Iracilda Sampaio; e os pesquisadores da UFPA, Leandro Juen, do Instituto de Ciências Biológicas, e Nils Asp, do Campus de Bragança. Também participaram da reunião o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Guilherme Coutinho Calheiros, e o chefe de gabinete da ministra, Rubens Diniz.

O Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica (CISAM) tem como foco seis áreas temáticas: Biodiversidade e Conservação; Água, Floresta e Clima; Oceano e Foz do Amazonas; Contaminação Ambiental e Saúde do Amazônida; Povos da Amazônia; e Inovação, Economia e Sustentabilidade. O Centro também abrigará o Museu das Amazônias, com os acervos da Biodiversidade e da Sociodiversidade da Amazônia, resultados das pesquisas nessas áreas temáticas.

A integração das informações científicas produzidas por grupos de pesquisa de Universidades da Amazônia nas seis áreas temáticas possibilitará a elaboração de  diagnósticos científicos para informar a sociedade e a imprensa nacional e internacional, assim como municiar governos para a formulação de políticas públicas, a partir de uma agenda de pesquisa, a ser executada sob a liderança dos grupos científicos amazônicos, em parceria com outros grupos brasileiros e estrangeiros. Outros propósitos do centro incluem incrementar a formação de pessoal para a ciência na Amazônia e contribuir para uma inteligência local cada vez mais robusta.

Para o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, “Há uma inteligência local apta a produzir a ciência necessária ao desenvolvimento da Amazônia. Por isso defendemos que o investimento em ciência na Amazônia deve ser dirigido às instituições de ensino e pesquisa da Amazônia, com destaque para as universidades públicas, que lideram o esforço científico na região”.

A experiência em pesquisa na Amazônia e os diálogos já estabelecidos com as múltiplas e complexas sociedades locais são também fatores preponderantes para o direcionamento dos investimentos em educação e pesquisa para a região. “O desenvolvimento sustentável da Amazônia depende, em última instância, do Amazônida, sendo necessário o contato estreito com ele para a formulação de soluções realistas. As Instituições Públicas de Ensino Superior amazônicas são majoritariamente constituídas por amazônidas e possuem enorme capilaridade na sociedade amazônica. Somente integrando, ouvindo, discutindo e dando oportunidade de participação a quem vive na Amazônia é que conseguiremos mudar a realidade da região”, argumentou Emmanuel Tourinho.

A proposta do Centro defende uma política específica de investimentos em ciência nas instituições da Amazônia, considerando a dimensão continental da região e o agravamento dos problemas ambientais e humanos, assim como a importância da região para uma nova fronteira econômica do país e para o clima global.

Com sede na UFPA, o Centro contará com núcleos avançados construídos em todas as Instituições de Ensino Superior (IES) parceiras, que vão interagir de modo permanente e realizarão reuniões presenciais itinerantes. O Centro será composto por um conselho, um comitê gestor, coordenadorias para cada área temática e o Museu das Amazônias.

A ministra Luciana Santos elogiou a proposta, afirmou que o MCTI possui ferramentas para ajudar na criação do Centro por etapas e colocou a pasta à disposição para dialogar sobre a iniciativa. “O fortalecimento da pesquisa na Amazônia está alinhado às prioridades do Governo Federal. Não podemos manter o paradoxo de termos uma região com tantas riquezas e uma grande desigualdade social. Nós temos caminhos para ajudar no desenvolvimento do Centro. Podem contar conosco”, disse.

Ciência integrada – A congregação das competências e o fortalecimento de grupos de pesquisa já estabelecidos na região ocorrerá por meio de intercâmbios, criação e incremento de infraestrutura física e de equipamentos, custeio de projetos, apoio à formação de pessoal e maiores condições para receber colaboradores externos.

A criação do centro possibilitará na Amazônia: o compartilhamento de informações relevantes; a formação de equipes multidisciplinares e multi-institucionais; ações transversais que apoiem o desenvolvimento das instituições em todos os estados da Amazônia; melhoria da infraestrutura física para ciência na Amazônia; formação de alta qualidade de profissionais amazônidas que se fixem na região; aumento das oportunidades para pesquisadores, professores e estudantes amazônidas; aumento da competitividade amazônica para obtenção de financiamentos, criação de empresas e desenvolvimento tecnológico; subsídios de forma objetiva para a tomada de decisões pelos órgãos federais e estaduais e pelos povos amazônidas.

O professor Leandro Juen, doutor em Ecologia, que coordenou, junto com várias equipes, a elaboração do documento entregue ao MCTI, exemplifica a complexidade de realizar pesquisas científicas em uma região como a Amazônia: “Existem várias Amazônias dentro do mesmo bioma. Isso favorece que a região possua grande diversidade cultural, mas também inúmeros conflitos sociais, econômicos e políticos. As questões relacionadas à posse de terra e uso dos recursos naturais  podem apresentar desafios para os pesquisadores que desejam trabalhar na região. A proteção ambiental e segurança são questões políticas sensíveis na Amazônia, o que pode dificultar a realização de pesquisas em muitas áreas. Em virtude de todos esses fatores, realizar pesquisa na Amazônia é caro e complexo, especialmente em áreas remotas. A logística e o transporte de equipamentos e suprimentos encarecem as pesquisas. A necessidade de respeito, empatia e conhecimento das especificidades das populações locais para a realização dos trabalhos e para garantir efeitos sociais de longo alcance adicionam alta complexidade às pesquisas”.

Por isso o pesquisador defende o fortalecimento das redes de pesquisa já instaladas na região, em sua interação com as populações locais e com potencial para desenvolver ciência de modo colaborativo e integrado. “A soma dos esforços de todas as IES amazônicas é essencial para reunir expertises e possibilitar a realização de estudos e de ações de grande impacto, tentando diminuir o problema que as instituições isoladas enfrentam, como a falta de recursos e a dificuldade de fixação de pesquisadores. A criação do Centro também buscará fazer parcerias e colaborações com as Instituições respeitadas que temos em todo o Brasil, possibilitando a liderança para as IES da região Norte e com a contribuição das outras Instituições interessadas em parceria de trabalho conjunto. Uma iniciativa assim, baseada no respeito pela sociobiodiversidade local e o desenvolvimento sustentável das instituições localizadas na região de interesse não possui paralelo e dará ao Brasil maior visibilidade, com uma ação inovadora em uma região de interesse global”, considera Leandro Juen.

Áreas temáticas – As seis áreas temáticas que compõem a proposta do Centro foram pensadas em alinhamento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Na área de Biodiversidade e Conservação, por exemplo, serão desenvolvidos estudos integrados da biodiversidade, descrição e conservação da biodiversidade amazônica, proposições e informações para políticas públicas de conservação eficazes e promoção de pesquisa, educação e conscientização do uso sustentável da biodiversidade.

Já na área de Monitoramento da Água, Floresta e Clima, serão integrados os estudos dos componentes água – floresta – clima, incluindo a avaliação do impacto do desmatamento na biodiversidade amazônica e das mudanças no uso da terra na Amazônia, compreendendo as interações complexas na região.

Para o Monitoramento do Oceano e da Foz do Amazonas, as pesquisas abordarão a governança e os modelos de desenvolvimento sustentável, o conhecimento da biodiversidade marinha e o uso de recursos naturais, o mapeamento detalhado da plataforma da foz do Amazonas e o panorama hidrodinâmico, assim como a avaliação dos potenciais biotecnológicos e de desenvolvimento socioeconômico.

No que se refere ao eixo Contaminação Ambiental e Saúde do Amazônida, serão feitas investigações de fontes de contaminação e seus efeitos, análises dos desafios em saúde do Amazônida para apoiar o desenvolvimento de soluções realistas e eficazes, com participação ativa da sociedade amazônica, além da promoção de conscientização e educação ambiental.

Na área de Estudos com os Povos Originários e Tradicionais Amazônicos, a proposta é criar um centro amazônico multiinstitucional de estudos integrados com os povos originários e tradicionais, promover a participação ativa e o diálogo intercultural, avaliar as necessidades de saúde das comunidades tradicionais na Amazônia e fortalecer a governança e a autodeterminação dos povos tradicionais.

Em Inovação, Economia e Negócios Sustentáveis, será criado um centro amazônico multiinstitucional de estudos integrados para promover a inovação e negócios sustentáveis junto aos povos tradicionais, estimular o ecoturismo na Amazônia e

aprofundar estudos e parcerias.

Para dar visibilidade aos estudos nas áreas temáticas e promover a interação com a sociedade, o Museu das Amazônias trabalhará em ações para a conscientização sobre os desafios enfrentados pela biodiversidade amazônica, sobre a proteção da saúde humana e os desafios ambientais e sobre as questões contemporâneas dos povos originários e tradicionais amazônicos, reunindo os acervos das pesquisas.

A partir do apoio recebido por parte do MCTI, a UFPA está em diálogo com as Universidades Públicas Federais da Amazônia para constituir efetivamente o Centro.

*Com informações de Comunicação UFPA