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USP busca parceria com UFPA, que propõe simetria na liderança e gestão de recursos

Em visita à Universidade Federal do Pará (UFPA), o pesquisador Paulo Artaxo, diretor do recém-criado Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (CEAS) da Universidade de São Paulo (USP), reuniu-se com o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, para discutir possibilidades de parcerias em pesquisas na Amazônia. O encontro ocorreu na última terça-feira, 13 de junho, no Gabinete da Reitoria da UFPA, com as participações da pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA, Iracilda Sampaio, e da coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFPA, Julia Cohen.

Paulo Artaxo explicou que o CEAS foi criado em março de 2023 como um órgão vinculado diretamente à Reitoria da USP e possui um Comitê Gestor composto de seis pesquisadores, com representantes de instituições da Amazônia. Agora o Centro está em fase de aprovação do seu regimento interno e de constituição de um Comitê Consultivo, que deverá ser formado metade por pesquisadores da Amazônia e metade por pesquisadores de outras regiões brasileiras.

“O Centro trabalhará em torno de dez temáticas, voltadas, por exemplo, para estudos ambientais, climáticos e fundiários, sobre biodiversidade, modos de vida dos povos amazônicos, sustentabilidade, entre outras. Estamos buscando as parcerias com as instituições da região para propor projetos conjuntos às agências de fomento, facilitar as interações e possibilitar mobilidades de estudantes entre as instituições”, propôs Paulo Artaxo.

O reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, agradeceu a busca de diálogo, destacou a liderança nacional de Paulo Artaxo e lembrou que o pesquisador já colaborou em projetos com a participação da UFPA em outras ocasiões. Em seguida, ressaltou que a UFPA é hoje a maior universidade da Pan-Amazônia, destacando-se também como a segunda maior universidade brasileira em número de alunos e a sexta, em número de programas de pós-graduação, o que demonstra seu porte de produção de conhecimento e formação de profissionais e pesquisadores especializados na região. Essa potência da Universidade já vem sendo reconhecida nacional e internacionalmente por meio de avaliações e rankings. 

Mais recentemente, a UFPA foi escolhida para sediar a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 2024, o maior evento científico da América Latina, mais uma demonstração de que a Instituição precisa estar no centro das discussões sobre a Amazônia.

Após essa contextualização, Emmanuel Tourinho reforçou que, assim como a UFPA, outras instituições de ensino e pesquisa na Amazônia têm um papel fundamental para a ciência da região e do país, contudo muitas vezes são invisibilizadas em políticas nacionais de financiamento e apoio à pesquisa. “Nossas instituições e pesquisadores da Amazônia lutam em fóruns nacionais por uma distribuição equitativa dos investimentos em educação e ciência e pelo fim das assimetrias históricas nessa partilha de recursos. Apesar de representarmos 10% do Produto Interno Bruto e da população do país, não recebemos nem 5% dos investimentos em ciência e tecnologia. A UFPA, por exemplo, recebe menos recursos para o ensino e para a pesquisa que outras instituições de igual ou menor porte, mesmo sediada em uma região cujos custos operacionais e de pesquisa são muito acima dos do Sul e do Sudeste”, ponderou o reitor.

Além das assimetrias de investimentos, Emmanuel Tourinho também problematizou uma visão colonialista do Brasil sobre a região que pautou os projetos de desenvolvimento executados na Amazônia, com caráter exploratório e depredatório dos recursos naturais e altamente nocivo em seus impactos para a população que aqui vive, principalmente os povos tradicionais. Essa visão se manifesta também de outras formas no âmbito científico. “Com frequência, pesquisadores da região são procurados para atuar em projetos sem protagonismo intelectual, como coletadores de dados que são apropriados e usados por outras instituições para produção científica de ponta. Hoje não aceitamos mais parcerias que não sejam igualitárias e garantam o protagonismo da ciência produzida na região”, destacou o reitor.

Reitores da UFPA e USP conversam sobre parceria em pesquisa. Foto: Ascom/UFPA

“Estamos em um momento de luta por visibilidade e simetria na distribuição dos recursos. Nosso esforço para criar condições e apoio para a consolidação das instituições da Amazônia não é um esforço só pela região, é por todo o país. O Brasil todo ganha com o fortalecimento da pesquisa na Amazônia, com o protagonismo das instituições da Amazônia em cooperação com todo o país e com outras nações. Queremos ter parceiros que compreendam isso. Por essa razão, buscamos colaborações em que tenhamos a liderança intelectual de projetos e em que os recursos entrem para os grupos de pesquisa sediados na região”, defendeu Emmanuel Tourinho.

Paulo Artaxo concordou com as questões expostas pelo reitor e apontou alguns movimentos de entidades científicas nacionais para garantir que os comitês gestores de recursos de fundos para o desenvolvimento da Amazônia e da pesquisa tenham representação de pesquisadores da região. “Sabemos da importância das instituições da Amazônia para o debate global em torno da região e queremos cooperar para esse desenvolvimento”, afirmou o pesquisador.

Cooperação – Por meio de diálogo sobre possibilidades de parcerias entre o CEAS/USP e a UFPA, foi definida a elaboração de um termo de cooperação entre as instituições, com a garantia da simetria na liderança intelectual de projetos e na gestão dos recursos captados com participação de pesquisadores da UFPA e da USP. 

Como primeira iniciativa incorporando o compromisso discutido, um projeto na linha de clima e dinâmica socioambiental na Amazônia será elaborado sob a liderança da professora Julia Cohen, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFPA. Ainda serão alinhados outros projetos nas demais linhas temáticas para busca de financiamentos, com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA.

Para a assinatura do termo de cooperação com os compromissos pact uados, será planejada uma atividade em parceria, de lançamento oficial do Ceas em evento a ser realizado na UFPA, no segundo semestre de 2023. Na ocasião, deverão ser também discutidas outras prioridades para a pesquisa na e da Amazônia.

Informações; Ascom/UFPA