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Vídeo: feirantes e consumidores falam sobre alta do açaí e Dieese explica o cenário

O BT foi no Ver-o-Peso, em Belém, para entender como feirantes e clientes estão se virando para vender e consumir o açaí (que o paraense não pode ficar sem), em tempos de preços elevados, embora a procura permaneça alta, uma vez que o fruto é alimento tradicional e cultural do paraense.

Os preços exorbitantes chamam atenção: um vídeo que circula nas redes sociais nesta semana mostra a indignação de um batedor do fruto, o qual afirma que a saca de açaí está sendo vendida a R$ 1 mil.

Segundo o supervisor Técnico do Dieese, Everson Costa, a dica é que o consumidor pesquise bastante para encontrar o melhor preço, mas desde janeiro de 2024, o valor de compra do fruto cresceu de 8% a 10%, considerando o açaí do tipo médio, em meio ao período de entressafra, quando a produção reduz e os preços tradionalmente sobem.

“Enquanto na feira ele (o açaí) pode girar em torno de R$ 20, temos pontos de venda e supermercados que comercializam o produto acima de R$ 40, protanto, temos uma disparada de preços que formam esse cenário, além da entressafra, e com destaque também para os atravessadores. Essas pessoas que compram e revendem esse produto (os atravessadores) acabam formando um preço bem maior, que está sendo distribuido ao consumidor final. Temos esses pontos de pressão (entressafra e atravessadores), mas também a exportação pressiona esses preços. A tendência é de novos aumentos”, disse Costa.

PREÇO ALTO: NÃO PREJUDICA APENAS VENDEDORES E CONSUMIDORES

De acordo com o supervisor técnico do Dieese, famílias e emprego e renda também são afetados pelas altas do preço do açaí.

“Os aumentos no preço do açaí não trazem uma pressão somente para quem vende e consome, também temos de falar das famílias e da geração de emprego e renda, pessoas que vivem e têm do açaí o seu sustento diário. A dificuldade é diária entre encontrar o com preço equilibrado para ofertar à população que consiga pagar, é um período realmente difícil”, reflete Costa.

Explica Everson Costa – Supervisor Técnico do Dieese Pará. Imagem reprodução.

EXPECTATIVA: PREÇOS DEVEM REDUZIR ENTRE MAIO E JUNHO

Para o especialista do Dieese, os preços devem recuar a partir do mês de maio: “A expectativa é que os preços começem a diminuir a partir do mês de maio para junho, que geralmente as chuvas são bem menores, do chamado inverno amazônico, diminuiu consideravelmente os preços e você passa até então a nova produção chegando aí começando a ser comercializada. Mas efetivamente, a queda só ocorre no preço do açaí e a série histórica de preço tem mostrado isso no segundo semestre, a queda dos preços, no período compreendido entre junho, julho até meados de novembro, a gente está falando de um período de fortes quedas.”, enfatizou.

Apesar das quedas no segundo semestre, os preços não retornam ao anteriormente praticado:

“O curioso de tudo isso é que as quedas ocorrem, mas elas não conseguem ser maiores do que os aumentos anteriores. então, com isso ao longo de 12 meses, quando você olha o preço atual e vê quanto era no mesmo período do ano anterior, você sempre percebe elevações de preço, ou seja, o preço do açaí jamais retorna mesmo com uma maior produção. Essa descida de preços costuma ocorrer de maneira bem menor. Já a subida escalada de preços é muito rápida e pressiona muito mais do que a queda, mesmo no seu período de maior produção”, avalia.

ATRAVESSADORES

Por fim, o especialista afirma que os atravessadores, que são a ponte entre o produtor, o consumidor e o vendedor em Belém, é um fator que também determina o crescimento do preço do açaí.

“Os atravessadores aqui (em Belém), eles são aqueles que utilizam principalmente da facilidade de transporte. Então, ele tem um conhecimento de quem está numa ilha produzindo, que não tem a mesma condição de transportar esse produto para uma feira, para um local de distribuição. Então, ele se aproveita dessa situação, tem o capital para comprar esse produto, então ele acaba comprando isso com preço bem mais em conta, se considerado, esse atravessador também define o aumento do preço porque ele precisa tirar o lucro dele. Agora, se esse produtor tivesse a condição de estar levando esse produto diretamente a quem revende ou ao consumidor, a lógica de lucro com certeza seria outra. Então, é papel do atravessador, o mercado é livre inclusive, é bom que se diga isso. E ao chegar nas feiras, onde é para os locais de distribuição, como a oferta é bem menor e a quantidade de batedores é bem maior, aí vira um verdadeiro leilão: “Então, eu tenho aqui x paneiros de açaí, meu preço é esse”. Você não quer tudo bem ter outro que queira e aí você acaba então tendo indivíduo nessa cadeia de distribuição e formação de preço do açaí que tem aqui lucros e acaba formando um preço maior. O atravessador, claro, ele têm o custo dele a distância que ele vai buscar. O mercado é livre, agora, a gente precisa lembrar que a cadeia de produção de açaí no estado no mínimo envolve mais de mil pessoas entre quem produz e quem revende, e quem bate o produto nas feiras. Ou seja, é muita gente envolvida”, destaca.

CADEIA DE PRODUÇÃO

“Para diminuir a quantidade de atravessadores, essa cadeia de produção deve mapear e identificar esses atravessadores, facilitando o escoamento e criando procedimentos para que o processo de distribuição do fruto remunere de fato quem precisa ser remunerado. Não é um processo fácil, só que é médio e longo prazo, mas o açaí hoje do Pará está no mundo inteiro, e aí cabe um olhar mais carinhoso, principalmente nessa época de entressafra, porque o açaí, ele não é só um símbolo paraense, ele é um costume, uma tradição de consumo alimentar no estado. E aí, realmente, para uma população de baixa renda, como é a do estado do Pará, ela não têm a condição de comprar, infelizmente, pagando 20, 30, 40 reais no litro do açaí todo dia. É uma realidade, e infelizmente, para mudar isso, você precisa de uma série de ações para que a gente possa ter um açaí, quem sabe, mais barato, principalmente o Estado, porque é ele que tem a maior capacidade de criar políticas para que se possa ter produtores, pesquisa e extensão e para que a produção seja mais equilibrada, além de apoio ao produtor”, avalia.